ATA DA VIGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO ORDINÁRIA DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEXTA LEGISLATURA, EM 27-3-2014.
Aos vinte e sete dias do
mês de março do ano de dois mil e quatorze, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha
do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quatorze horas
e quinze minutos, foi realizada a segunda chamada, respondida pelos vereadores
Alberto Kopittke, Bernardino Vendruscolo, Cassio Trogildo, Clàudio Janta,
Delegado Cleiton, Dr. Thiago, Guilherme Socias Villela, João Derly, Jussara
Cony, Kevin Krieger, Lourdes Sprenger, Mario Fraga, Mauro Pinheiro, Paulinho
Motorista, Pedro Ruas e Professor Garcia. Constatada a existência de quórum, o
Presidente declarou abertos os trabalhos. Ainda, durante a Sessão, compareceram
os vereadores Alceu Brasinha, Any Ortiz, Idenir Cecchim, João Carlos Nedel,
Marcelo Sgarbossa, Márcio Bins Ely, Mario Manfro, Nereu D'Avila, Paulo Brum,
Reginaldo Pujol, Séfora Mota, Sofia Cavedon, Tarciso Flecha Negra e Valter
Nagelstein. Do EXPEDIENTE, constaram: Comunicado do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação do Ministério da Educação, emitido no dia dez de
fevereiro do corrente; e Ofícios do Fundo Nacional de Assistência Social do
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, emitidos nos dias trinta
de dezembro de dois mil e treze e trinta e um de janeiro do corrente. A seguir,
tendo como mestre de cerimônia o senhor José Luís Espíndola Lopes, foi iniciado
Ato de restituição simbólica de mandatos de Prefeito, Vice-Prefeito e
Vereadores cassados em face do regime de mil novecentos e sessenta e quatro,
nos termos da Resolução de Mesa nº 470, de 26 de março de 2014. Compuseram a
MESA: o vereador Professor Garcia, Presidente da Câmara Municipal de Porto
Alegre; Luciano Marcantônio, Secretário Municipal de Direitos Humanos,
representando a Prefeitura Municipal de Porto Alegre; deputado federal Henrique
Fontana, representando a Câmara Federal; deputado estadual Adão Villaverde,
representando a Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; Juçara
Dutra, Secretária Estadual da Justiça e dos Direitos Humanos; Sereno Chaise,
Prefeito Municipal cassado; Elói Flores, representando a família de Ajadil de
Lemos, Vice-Prefeito cassado; Índio Vargas, Vereador cassado; Alberto Schroeter,
Vereador cassado; Lea Machado, esposa de Dilamar Machado, Vereador cassado;
Lícia Peres, esposa de Glênio Peres, Vereador cassado; Ricardo Chaves, filho de
Hamilton Chaves, Vereador cassado; e Maria Isabel da Silva Klassmann, mãe de
Marcos Klassmann, Vereador cassado. Em
continuidade, os vereadores Pedro Ruas e Alberto Kopittke pronunciaram-se
acerca da presente solenidade. Após, o Presidente procedeu à leitura da Resolução de
Mesa nº 470, de 26 de março de 2014, que restitui, simbolicamente, os mandatos
de Sereno Chaise, Ajadil de Lemos, Alberto Schroeter, Dilamar Machado, Glênio
Peres, Hamilton Chaves, Índio Vargas e Marcos Klassmann, eleitos para exercício de mandatos
eletivos em Porto Alegre e cassados pelo regime de mil novecentos e sessenta e
quatro. Em prosseguimento, foram entregues Diplomas alusivos à presente
solenidade, recebidos por Sereno Chaise, Prefeito cassado; Elói Flores,
representando Ajadil Lemos, Vice-Prefeito cassado; Marlene Vargas,
representando Índio Vargas, Vereador cassado; Lícia Peres, representando Glênio
Peres, Vereador cassado; Léa, Alceu e Anderson Machado, representando Dilamar
Machado, Vereador cassado; Alberto Schroeter, Vereador cassado; Ricardo Chaves,
representando Hamilton Chaves, Vereador cassado; e Maria Isabel da Silva
Klassmann e Júlia Klassmann, representando Marcos Klassmann, Vereador cassado. A seguir, foi apregoado Requerimento de autoria do
vereador Engº Comassetto (Processo nº 0703/14), deferido pelo senhor
Presidente, solicitando autorização para representar externamente este
Legislativo, do dia de hoje ao dia vinte e nove de março do corrente, no
Encontro Nacional da Frente Nacional dos Vereadores pela Reforma Urbana, no
Município de Curitiba – PR. Após, o Presidente concedeu a palavra a Elói Flores
e a Sereno Chaise. Ainda,
foram registradas as presenças de Ricardo Zamora, Chefe de Gabinete do Governador
Governador do Estado do Rio Grande do Sul; Raul Carrion, Deputado Estadual;
Alfredo Crossetti Simon, Procurador do Estado do Rio Grande do Sul; Walesca
Vasconcellos, Secretária Municipal Adjunta da Mulher; Karina D’Avila,
Secretária Municipal Adjunta dos Povos Indígenas e Direitos Específicos; Glória
Crystal, Secretária Municipal da Livre Orientação Sexual; Túlio Zamin,
Presidente do Banco do
Estado do Rio Grande do Sul – BANRISUL –; Eni Canarim, Presidente do Movimento Negro do PDT;
Lúcia Kopittke, Vice-Presidenta do Instituto dos Advogados do Brasil; Maria Cristina Carrion de Oliveira,
representando a Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional do Rio Grande do Sul
– OAB/RS –; Clovis Ilgenfritz e Cleon Guatimozim, ex-vereadores deste
Legislativo; Eleni Melo, Secretária-Geral do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente – CMDCA –;
Elói Guimarães, Secretário Municipal da Administração; Christopher Goulart,
Vice-Presidente da Fundação
de Assistência Social e Cidadania – FASC –; Carlos Chaise; e Ivo Fortes. Ás quinze horas
e quarenta e sete minutos, os trabalhos foram regimentalmente suspensos, sendo
retomados às quinze horas e cinquenta e seis minutos. Em continuidade, foi iniciado o período
de COMUNICAÇÕES, hoje destinado, nos termos do artigo 180, § 4º, do Regimento,
a tratar do tema “Memória, Verdade e Justiça”. Compuseram a Mesa: o vereador
Professor Garcia, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Roberto
Caldas, Juiz e Vice-Presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos;
Ivan Cláudio Marx, Procurador
Federal; e José Carlos Moreira da Silva Filho, Conselheiro da Comissão Nacional
de Anistia. A seguir, o
Presidente concedeu a palavra, nos termos do artigo 180, § 4º, incisos I e II,
a Roberto Caldas, Ivan Cláudio Marx e José Carlos Moreira da Silva Filhos, que
se pronunciaram sobre o tema em debate. Em COMUNICAÇÕES, nos termos do artigo
180, § 4º, inciso III, do Regimento, pronunciaram-se os vereadores Clàudio
Janta, Sofia Cavedon, Jussara Cony e Alberto Kopittke. Às dezessete horas e
doze minutos, constatada a inexistência de quórum, o Presidente declarou
encerrados os
trabalhos, convocando os vereadores para a Sessão Ordinária da próxima segunda-feira, à hora
regimental. Os trabalhos foram presididos pelos vereadores Professor Garcia e
Mauro Pinheiro e secretariados pelo vereador Guilherme Socias Villela. Do que
foi lavrada a presente Ata, que, após distribuída e aprovada, será assinada
pelo 1º Secretário e pelo Presidente.
O
SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS (José Luís Espíndola Lopes): Senhoras
e senhores, boa tarde. Na presença do Sr. Presidente da Câmara Municipal de
Porto Alegre, Ver. Professor Garcia, damos início ao ato de restituição simbólica de mandatos de Prefeito, Vice-Prefeito e
Vereadores cassados em face do regime de 1964, nos termos da
Resolução de Mesa nº 470, de 26 de março de 2014.
Convidamos para compor a Mesa desta homenagem a
representante do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Sra. Juçara Dutra, Secretária da Justiça e dos Direitos Humanos;
o representante da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul,
Deputado Adão Villaverde; o representante da Prefeitura Municipal de Porto
Alegre, Secretário de Direitos Humanos, Sr. Luciano Marcantônio; Prefeito
Municipal de Porto Alegre, cassado, Sr. Sereno Chaise; Sr. Elói Flores,
representante da família do Vice-Prefeito cassado Ajadil de Lemos; Sr. Vereador
cassado Índio Vargas; Sr. Vereador cassado Alberto Schroeter; Sra. Lea Machado,
esposa do Vereador cassado Dilamar Machado; Sra. Lícia Peres, esposa do
Vereador cassado Glênio Peres; Sr. Ricardo Chaves, “Kadão”, filho do Vereador
cassado Hamilton Chaves; Sra. Maria Isabel da Silva Klassmann, mãe do Vereador
cassado Marcos Klassmann.
Com a palavra o Sr. Presidente da
Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Professor Garcia.
O
SR. PRESIDENTE (Professor Garcia): Senhoras e senhores, para a Câmara
Municipal de Porto Alegre hoje é um dia muito importante. A restituição, de
forma simbólica, dos mandatos de Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores cassados
em face do regime de 1964 resgata um momento histórico. Quero parabenizar o
Ver. Pedro Ruas e o Ver. Alberto Kopittke, que trouxeram a proposição à Mesa
Diretora, a Mesa Diretora acolheu junto com os demais Vereadores. Entendemos
que, naquela ocasião, cada um dos Parlamentos do nosso País teve as suas
discussões sobre o episódio. Esta Casa foi o epicentro; 50 anos se passaram, há
discussões presentes, e são discussões que ainda permanecerão por muito e
muitos anos. De forma simples – mas quero dizer que essa forma simples tem toda uma
grandiosidade –, queremos homenagear aquelas pessoas que, num determinado
momento, fizeram e continuam fazendo parte da história de Porto Alegre, da
história do Rio Grande do Sul e da história do Brasil.
Quero convidar para falar, em nome dos Vereadores
proponentes, o Ver. Pedro Ruas.
O SR. PEDRO
RUAS: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os
componentes da Mesa e demais presentes.) Também cumprimento o meu caro Flores,
que representa a família de Ajadil de Lemos,
Vice-Prefeito cassado, junto com Sereno Chaise, em 1964; Ver. Alberto
Schroeter, que eu conheço tanto de nome, conheci hoje pessoalmente, é uma honra
conhecê-lo; Maria Isabel da Silva Klassmann, mãe de um dos meus modelos na
política – a filha é a Júlia, que está ali presente também –, do Marcos
Klassmann; demais familiares, Valéria, amigos, amigas, companheiros,
companheiras, meu caro Raul Ellwanger, que representa o Comitê Carlos de Ré da
Verdade e da Justiça; Marta Sica da Rocha, que representa o Comitê Popular da
Memória, Verdade e Justiça, comitês que lutam junto com outras entidades;
Petracco, vejo daqui – não posso nominar a todos –, Álvaro Petracco da Cunha, é
uma grande honra tê-lo aqui; amigas e amigos; eu não vou falar em nome do Ver.
Alberto Kopittke, meu caro Clóvis Ilgenfritz, porque ele vai falar depois de
mim, então, não tem sentido eu falar em nome de Sua Excelência. Aliás, eu falo
em Clóvis Ilgenfritz e vejo, ao lado dele, o Wilson Müller Rodrigues, que
representa a Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Rio Grande do
Sul. Eu quero dizer da honra que tenho em promover este ato, Presidente,
com o apoio da Mesa e todos os Vereadores, junto com um jovem Vereador, o
Alberto Kopittke, lutador, e que tem tido, em muitos momentos, uma clareza que
só teria correspondência numa larga experiência. Eu atribuo isso à sua
inteligência e à sua capacidade, o que nos dá orgulho em tê-lo aqui na Câmara.
O momento de hoje é muito mais importante, Lícia,
do que nós poderíamos imaginar num primeiro instante porque é uma oportunidade,
quando se faz a descomemoração do cinquentenário do Golpe de 64, de lembrar
aquelas pessoas que, de uma forma ou outra, além de todo o povo brasileiro e de
toda a nossa sociedade, sofreram duramente nas patas da ditadura militar. Em
diversos atos, nós temos a oportunidade de relembrar – e gostamos de fazer
isso, queremos fazer isso sempre – os presos, os torturados, os mortos, os exilados,
e são muitos. Em uma cerimônia aqui, há pouco tempo, em relação ao ex-Vereador
Antônio Losada, que luta pela vida no Hospital de Pronto Socorro neste momento,
nós mencionamos, um a um os mortos e desaparecidos do Rio Grande do Sul durante
a ditadura militar, Professor Zeca, mencionamos aqui. Hoje este ato da Câmara
relembra e, simbolicamente, devolve os mandatos de Sereno Chaise e Ajadil de
Lemos, cassados em 1964, Prefeito e Vice; Alberto Schroeter e
Hamilton Chaves, no mesmo ato, no dia 7 de maio de 1964; Índio Vargas e Dilamar
Machado, cassados em 1968; Glênio Peres e Marcos Klassmann,
cassados em 1977. O ato de hoje, portanto, orgulha Porto Alegre. Eu não sei,
Presidente Garcia, quantas câmaras municipais, em quase seis mil que há no
País, fizeram atos dessa natureza. Talvez haja outras, Professora Juçara, eu
não sei, mas não tenho conhecimento de nenhuma e pesquisei ontem ainda. Fiz
ontem a pesquisa, mas não posso afirmar de forma definitiva. Mas, com certeza,
Porto Alegre é das pioneiras. Como Porto Alegre foi pioneira em 1884, ao abolir
a escravidão, quatro anos antes da Lei Áurea; como Porto Alegre foi pioneira,
em 1989, ao ter a primeira Câmara do País a abolir o pagamento de Sessões
Extraordinárias; como Porto Alegre tem a única Câmara, do nosso Brasil, que
reintegrou Glênio Peres e Marcos Klassmann em 1979.
Eu nasci e me criei em Porto Alegre. Tenho cinco
mandatos aqui nesta Casa. Com muito orgulho, sou porto-alegrense. Vivi e
convivi com a maior parte das pessoas mencionadas hoje. A Lícia Peres sabe, a
Lea sabe, a Isabel sabe da amizade que tive com o Glênio, com o Dilamar, com o
Marcão; o Índio sabe. Tive a honra de conviver um pouco com o Hamilton. Fiquei
muito amigo foi do Kadão, o Ricardo. Conheci pouco o Dr. Ajadil, fui com o Dr.
Brizola visitá-lo, ele já doente, no seu apartamento, ali na Av. Senador
Salgado Filho. Com Sereno Chaise, tenho uma longa história em comum, da qual
muito me orgulho.
Então, nós temos toda uma relação. O Glênio dizia
muito que nós éramos sempre um só, se pensávamos a mesma coisa. Ele gostava de
colocar isso em algumas reuniões, e eu gostava de ouvir isso.
O dia de hoje, portanto, é a devolução simbólica
destes mandatos. Nada, não existe maneira de compensar o que sofreram essas
pessoas, essas famílias, aqueles que estão aqui e os que não estão também.
Nada! Não existe essa maneira. Nós não quisemos, também, nem o Kopittke nem eu
e nem a Mesa da Câmara, meu caro Luciano, que representa o Prefeito, algo que
trouxesse ônus financeiro ao Município, o que seria justo. Nós quisemos, no
cinquentenário do golpe, na descomemoração do golpe que trouxe a ditadura
militar ao Brasil marcar esta posição: Porto Alegre reconhece que estes
mandatos eram legítimos! Eram mandatos que o povo outorgou! E Porto Alegre
devolve estes mandatos! (Palmas.) Este é o ato! É a devolução destes mandatos
que o povo definiu como de seus representantes e que a ditadura militar cassou,
de forma ilegítima, de forma ilegal, de forma autoritária, brutal. Muitos não
podem estar aqui, muitos gostariam de estar aqui, mas nós temos a consciência
de que os representamos, temos a clareza da nossa importância, de todos nós, da
nossa geração. E quando eu digo geração, eu me refiro a todos que estão vivos
ao mesmo tempo, a nós todos, nós todos aqui, desde a Júlia, filha do Marcos
Klassmann, que é uma menina, até o mais velho entre nós. Nós que estamos aqui
temos a responsabilidade, sim, de dizer o que foi o Golpe de 64, Dep. Henrique
Fontana – que nos dá a honra de chegar aqui –, de dizer o que foi a ditadura militar
de 21 anos, de dizer o que ela fez, de dizer que prendeu, que torturou
barbaramente, que matou, que exilou, que cassou, que impôs a sua vontade de
todas as formas. A nossa geração – os que estão vivos hoje nos 50 anos do golpe
– tem essa obrigação, e há de cumpri-la trazendo a verdade e buscando a justiça
pelos comitês da verdade e da justiça, pelas comissões estaduais e nacional,
por cada um de nós, Parlamentares, que temos esse compromisso, por cada
militante que honra a luta e a história do seu Partido trazendo a verdade e
buscando a justiça.
Concluo por aqui. Eu fiquei, Presidente Garcia,
muito emocionado, muito agradecido mesmo. Eu acho que a Mesa da Câmara, na
gestão de V. Exa., cumpriu um papel histórico, e eu não esperava de forma
diferente; mas eu quero fazer o registro deste agradecimento a todos da Mesa,
sem distinção. Agradeço a todos que aqui vieram prestigiar este ato, aos
comitês, de novo na pessoa do Raul Ellwanger, da Martinha, da Marta, aos nossos
comitês muito atuantes aqui no Sul e nacionalmente, e também a todos que deram
o seu tempo para este momento. Não tenham dúvida de que os 50 anos nos dão a
oportunidade histórica de mostrar que houve um golpe nas instituições, um golpe
na democracia, que houve uma ditadura cruel e sanguinária. E que o mundo saiba
que nós não compactuamos com isso e que nós não aceitamos que isso fique sem
justiça. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisado pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (Professor Garcia): Obrigado, Ver. Pedro Ruas.
O
SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS (José Luís Espíndola Lopes): Sr.
Presidente, gostaríamos de convidar para compor a Mesa também o Deputado
Federal Henrique Fontana, representante da Câmara Federal. Prestigiam, ainda,
este evento o Sr. Clovis Ilgenfritz, ex-Vereador desta Casa; o Sr. Ricardo
Zamora, Chefe de Gabinete do Sr. Tarso Genro, Governador do Estado do Rio
Grande do Sul; o Deputado Estadual Raul Carrion; o Dr. Alfredo Crossetti Simon,
Procurador do Estado do Rio Grande do Sul; a Sra. Walesca Vasconcellos,
Secretária Municipal Adjunta da Mulher; a Sra. Karina D’Avila, Secretária
Municipal Adjunta dos Povos Indígenas e Direitos Específicos; a Sra. Glória
Crystal, Secretária Municipal da Livre Orientação Sexual; o Sr. Túlio Zamin,
Presidente do Banrisul; a Sra. Eni Canarim, Presidente do Movimento Negro do
PDT; a Dra. Lúcia Kopittke, Vice-Presidente do Instituto dos Advogados do
Brasil; a Dra. Maria Cristina Carrion de Oliveira, representante da OAB/RS; o
Sr. Cleon Guatimozin, ex-Vereador; e demais familiares dos homenageados desta
tarde.
Com a palavra o Sr. Presidente da Câmara Municipal,
Ver. Professor Garcia.
O SR.
PRESIDENTE (Professor Garcia): O Ver. Alberto Kopittke está com a palavra.
O SR. ALBERTO
KOPITTKE: Sr. Presidente, Ver. Professor Garcia, a quem eu quero, antes de mais
nada, fazer um reconhecimento e um agradecimento, porque se não fosse sob a sua
condução nós não estaríamos tendo a oportunidade de abrir esta Casa para este
momento histórico. Meu muito obrigado e meus cumprimentos. Quero cumprimentar
todos colegas Vereadores de todos os partidos que aqui se encontram, das mais
diversas bandeiras partidárias. Saúdo todas as autoridades aqui presentes, não
quero desgastá-los nominando a todos, mas não posso deixar de citar a
Secretária Estadual de Justiça e Direitos Humanos, Juçara Dutra; o Deputado
Adão Villlaverde, representando nossa Assembleia Legislativa, o Deputado
Henrique Fontana, representando nossa Câmara Federal, dois companheiros nos
quais me espelho para mirar minha trajetória política, pela ética e pela luta;
o Sr. Luciano Marcantônio, representando nosso Prefeito José Fortunati; e, de
maneira muito especial, saudar aqui o colega Ver. Christopher Goulart, que
representa o seu avô, cassado pela ditadura militar, Presidente João Goulart.
Saudar a colega da OAB, Maria Cristina Carrion, em deferência a nossa Ordem dos
Advogados do Brasil – como advogado e também em homenagem à minha mãe aqui
presente, Dra. Lúcia; não posso deixar de citar a luta da nossa Ordem dos
Advogados do Brasil, que estamos recém conhecendo, advogados e advogadas que
viraram madrugadas visitando os presídios clandestinos da ditadura.
Quero saudar também uma figura muito especial, Dr.
Cleon Guatimozim, ex-Presidente desta Casa, pois me foram contadas as condições
em que o senhor deu posse novamente aos Vereadores Glênio Peres e Marcos
Klassmann, com a Câmara cercada pelo Exército, os dois ainda com mandado de
prisão, e o senhor muito corajosamente devolveu o mandato a eles no dia
seguinte da declaração da anistia no Brasil. E, de forma muito especial, o
nosso Prefeito reempossado simbolicamente hoje, Sereno Chaise, e a todos os
familiares e Vereadores também aqui presentes, Índio Vargas e Alberto
Schroeter, meu agradecimento muito especial.
Sei que não é um momento fácil; quando fui convidar
o Dr. Sereno, percebi que não era um momento fácil para o senhor e seus
familiares estarem aqui, porque é o ato de lembrar novamente, lembrar um
momento duro, momentos de prisão, de medo, de tortura, momentos onde muitos
tombaram, sem aviso, pelo caminho. Mas não posso deixar de agradecer aos
senhores e às senhoras, aos familiares, porque este ato tem dois sentidos,
primeiro uma homenagem a cada um que dedicou a sua vida para que hoje tenhamos
a liberdade de falar o que pensamos, esse direito tão sutil, mas tão valioso do
qual não podemos abrir mão.
A solenidade de hoje quer agradecê-los, mas também
tem, além de um sentido para o passado, um sentido para o futuro, porque as
novas gerações, como a minha e as mais jovens, precisam saber o que aconteceu
neste País, precisam ter o direito de saber a verdade, não porque se queira
vingança, não porque se queiram retaliações, mas porque o futuro da democracia
só vai se construir se olharmos para o passado, se tivermos a coragem de ver o
quão maus podemos ser ao torturar irmãos brasileiros, jovens que lutavam pela
liberdade. E esse é o sentido, Deputado Fontana. Saúdo também o professor José
Carlos que está aqui, Vice-Presidente da Comissão de Anistia, e quero deixar um
abraço ao nosso Presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão Pires Júnior,
que tem feito um trabalho de resgate da história, o que me inspira muito e me
emociona por ter tido a oportunidade de, junto com o Ministro Tarso,
reconstruir a Comissão de Anistia, que tem feito um trabalho de reconstrução da
memória deste País fantástico. Porque quem esquece a história também incorre no
crime; não no crime físico, mas no crime do esquecimento.
Existe um pensador chamado Walter Benjamin, que
estou tendo a oportunidade de conhecer recentemente, que nos ensinou, Prefeito
Sereno, que nós temos duas formas de olhar para a história: ouvindo a voz dos
vencedores, ouvindo o bradar retumbante da propaganda oficial daqueles
exércitos dos vencedores sempre contando a sua versão da história, ou nós temos
a oportunidade, a obrigação de ter um outro olhar sobre a história, de ver a
história a partir do olhar daqueles que tombaram, daqueles que sofreram, dos
sussurros dos porões enquanto eram torturados. E nós fazemos a opção de olhar a
história por esses jovens que dedicaram a sua vida para que nós pudéssemos
estar aqui hoje. Somente se nós enfrentarmos essa herança pesada do Brasil nós
vamos poder construir uma democracia, de fato, para o futuro. Infelizmente, o
nosso País carrega, sim, no seu passado, uma dura e pesada história de
repressão, de intolerância com os negros, com os índios, com todos aqueles que
tentaram lutar pela igualdade, pelas mulheres, pelos militantes de outras
ideologias que não a ideologia oficial. O nosso País amassou, torturou e matou
muitos que se levantaram por um país mais justo. E é em nome desses nossos avós
da liberdade que nós queremos construir um futuro de democracia para os nossos
netos. Somente assim, não existe outro caminho. É assim que as nações têm
conseguido superar o seu passado autoritário.
Eu quero aqui, de forma muito breve, trazer uma frase muito inspiradora, um discurso do Vereador Glênio Peres, minha querida amiga Alicia, também inspiradora pela luta dos direitos humanos, quando ele disse, no plenário desta Casa – ainda em outra sede, é verdade –, no dia 31 de janeiro de 1977, no seu discurso muito famoso, o seguinte: “Esta é uma Casa para falar dos buracos da rua; esta é uma Casa para falar da falta de luz [que nós temos numa determinada avenida.], mas esta é uma Casa que jamais pode deixar de falar da liberdade...”.
A Câmara Municipal de Porto Alegre é para proclamar
também o grande buraco aberto nos direitos humanos, Ver. Pedro Ruas, nos
direitos do cidadão brasileiro. Esta tribuna é para dizer que há um buraco numa
rua do Sarandi, mas também é para dizer que há uma imensa prisão que hoje
impede manifestações do pensamento em prol da liberdade de todos os
brasileiros.
Que jamais se esqueça, que jamais aconteça. Viva a
democracia! Viva a liberdade! Abaixo a ditadura! (Palmas.)
(Não revisado pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (Professor Garcia): Quero registrar também as seguintes presenças: Sra.
Eleni Melo, Secretária-Geral da CMDCA; Sr. Carlos Chaise; Sr. Ivo Fortes; Sr.
Elói Guimarães, Secretário Municipal da Administração; Sr. Christopher Goulart,
Vice-Presidente da FASC.
Neste momento, farei a leitura da Resolução de Mesa nº 470, de 26 de março de 2014. (Lê.): “Restitui, simbolicamente, os mandados do Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores cassados em face do regime de 1964. A Mesa da Câmara Municipal de Porto Alegre, no exercício de suas atribuições legais, em conformidade com os art. 15 e 16 do Regimento deste Legislativo, aprovado pela Resolução nº 1.178, de 16 de julho de 1992 e alterações posteriores. Considerando que no ano de 2014 transcorre o cinquentenário do Movimento de 1964; Considerando que, em decorrência da implantação do novo regime de governo, houve a cassação de mandatos eletivos nesta Capital; Considerando que esta experiência histórica realça a importância da defesa da democracia como regime de governo que permite a livre manifestação da cidadania no que respeita aos destinos da Nação. Estabelece. Art.1º – Ficam restituídos, simbolicamente, os mandatos dos seguintes políticos eleitos para exercício de mandatos eletivos em Porto Alegre e cassados pelo Regime de 1964: Sereno Chaise, Prefeito; Ajadil de Lemos, Vice-Prefeito; Alberto Schroeter, Vereador; Dilamar Machado, Vereador; Glênio Peres, Vereador (período de 03.02.1977 a 28.08.1979); Hamilton Chaves, Vereador; Índio Vargas, Vereador; Marcos Klassmann, Vereador (período de 15.02.1977 a 28.08.1979). Art. 2º – A restituição de mandatos de que trata a presente Resolução possui caráter simbólico, não gerando quaisquer direitos e obrigações. Art. 3º– Esta Resolução de Mesa entra em vigor a partir da data de sua publicação. Gabinete da Presidência da Câmara Municipal de Porto Alegre, 26 de março de 2014. [Assinam.] Ver. Professor Garcia, Presidente. Ver. Mauro Pinheiro, 1º Vice-Presidente. Ver. Delegado Cleiton, 2º Vice-Presidente. Ver. Guilherme Socias Villela, 1º Secretário. Ver.ª Any Ortiz, 2ª Secretária. Ver. Márcio Bins Ely, 3º Secretário”. A presente Resolução foi publicada no Diário Oficial de Porto Alegre na data de hoje, 27 de março de 2014. (Palmas.)
Neste momento, nós queremos fazer a entrega dos
Diplomas de restituição simbólica ao mandato. Eu quero convidar o sempre
Vereador desta Casa, Cleon Guatimozin, para que, junto com a Presidência, possa
restituir o mandato dos já nominados. Convido também o Ver. Alberto Kopittke e
o Ver. Pedro Ruas para estarem aqui na Mesa, para que nós possamos chamá-los,
individualmente, e fazer o agradecimento que eles merecem, em nome da Cidade.
(Procede-se à entrega dos Diplomas às seguintes
autoridades: Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre cassado e, agora,
restituído, Sereno Chaise; Sr. Ajadil Lemos, Vice-Prefeito cassado,
representado pelo Sr. Elói Flores, familiar; Sr. Índio Vargas, Vereador,
representado por sua esposa, Sra. Marlene; Sr. Glênio Peres, Vereador,
representado pela sua esposa, Sra. Lícia Peres; Sr. Dilamar Machado, Vereador,
representado pela sua esposa, Sra. Léa Machado e pelos filhos Alceu e Anderson;
Sr. Alberto Schroeter, acompanhado de sua filha Valéria; Sr. Hamilton Chaves,
representado pelo seu filho, Sr. Ricardo Chaves, “Kadão” – solicitamos a
presença das irmãs Maria Tereza e Maria Betânia; Sr. Marcos Klassmann,
representado pela mãe, Sra. Maria Isabel da Silva
Klassmann e pela filha, Sra. Júlia Klassmann).
O SR.
PRESIDENTE (Professor Garcia): Eu vou pedir um pouco da paciência daqueles que
estão assistindo a este evento, mas ele é ímpar, é único. Nós vamos fazer dois
momentos: primeiro, a foto com os homenageados e, depois, uma foto maior com
todos os familiares e uma com os Vereadores. Por gentileza, chamo o Sr. Carlos
Chaise para tirar a foto conosco.
(Procedem-se aos registros fotográficos.)
O SR.
PRESIDENTE (Professor Garcia): Senhoras e senhores, solicito que
retornem aos seus assentos para a continuação da Sessão.
Apregoo o Requerimento, de autoria do Ver. Engº Comassetto, que solicita
representar esta Casa no evento “Encontro Nacional da Frente Nacional dos
Vereadores pela Reforma Urbana”, na cidade de Curitiba-PR, no período de 27 a
29 de março de 2014, com custeio de viagem.
Senhoras e senhores,
nós temos ainda a fala do Sr. Prefeito. Queremos informar que, ato contínuo,
haverá um debate no plenário.
Queremos convidar o
Sr. Elói Flores para fazer o pronunciamento, lendo uma carta do seu pai, Ajadil
de Lemos.
O SR. ELÓI FLORES: Presidente Garcia, boa-tarde,
cumprimento-o pela iniciativa, cumprimento os Vereadores desta Casa, senhoras e
senhores homenageados, familiares, e diria, de início, Presidente, que a
história tem formas de ser escrita e de ser dita, ela é dinâmica. E hoje trago
aos Srs. Vereadores e a todos aqueles que estão presentes uma carta em nome do
filho do Dr. Ajadil de Lemos...
(Manifestações no
plenário.)
O SR. PRESIDENTE (Professor Garcia): Só um
minutinho. Senhores e senhoras, eu vou pedir um minuto de atenção para que
possamos ouvir o orador que está na tribuna. Por gentileza, permaneçam em seus
assentos mais alguns minutos, porque, logo depois, temos a fala do Dr. Sereno
Chaise, Prefeito da Cidade.
Eu quero, mais uma
vez, agradecer a presença do Presidente, Cleon Guatimozim, que distribuiu
todos os diplomas referentes à época. Por gentileza, Dr. Elói Flores.
O SR. ELÓI FLORES: Retomando, eu vou ler
uma carta a vocês que tem um cunho histórico e que, de uma certa forma, na
dinâmica do que se escreve, do que se vive e do que se lê, traz elementos
importantes, pelo momento dessas pessoas homenageadas que viveram juntamente.
Essa carta é do filho do Dr. Ajadil de Lemos, o Dr. Adail Ivan de Lemos, que me
enviou hoje pela manhã e lamentou não poder vir para cá por um problema de aeroporto,
não há passagem do Rio para Porto Alegre: “Em nome de meu pai, Ajadil de Lemos,
venho por meio da voz de meu irmão de criação [sou eu], Elói Flores da Silva,
agradecer a homenagem póstuma que lhe está sendo prestada nesta cerimônia
patrocinada pela Câmara de Porto Alegre. Aqui eu agradeço e cumprimento o Ver.
Ruas, o Ver. Alberto, pela sua iniciativa e pela sua memória de dignidade com a
história do Rio Grande – muito obrigado. Nada mais justo que reempossar
politicamente aqueles trabalhistas que, no exercício de seu mandato, foram
cassados com o golpe ocorrido em finais de março de 1964. Para que esse ato
seja compreendido em toda a sua extensão, julgo oportuno divulgar a todos
alguns episódios que marcaram a vida pessoal e política de Ajadil de Lemos.
Ainda na condição de jovem advogado, meu pai pertenceu à União Social
Brasileira e foi companheiro de Arlindo Pasqualini. Nas inúmeras campanhas
políticas de que participou, Ajadil viajou com Pasqualini o Rio Grande do Sul e
foi uma espécie de Secretário Particular. Depois de avaliar seus textos, os
revisava e, sob orientação dele, dava a forma final a seus discursos. Ajadil de
Lemos, orador ilustre da Faculdade de Direito da Universidade Federal, meu pai,
tornou-se amigo inseparável de Leonel Brizola, e foi, em grande parte,
responsável [e isso é importante] por sua filiação no antigo PTB, ainda sem
seus primórdios, quando surgira. Também foi advogado de Brizola durante mais de
30 anos. Como militante do Partido, participou ativamente da Campanha da Legalidade,
após a renúncia do Presidente Jânio Quadros. Na época, eu, Adail Ivan, com 14
anos de idade, fui convocado por ele, Brizola, para fazer parte dessa
resistência a um já antecipado golpe. Já havia uma previsão clara do golpe. Em
julho de 1962, quando Brizola transferiu-se para o Rio de Janeiro para
candidatar-se a Deputado Federal, meu pai substituiu-o interinamente no Governo
do Estado do Rio Grande do Sul. Em novembro de 1963, aceitou concorrer, pelo
PTB, à Vice-Prefeitura da cidade de Porto Alegre, e foi eleito com 45% dos
votos, junto com Sereno Chaise [hoje homenageado e empossado como Prefeito]. O
golpe de 1º de abril de 1964 levou os candidatos eleitos e seus companheiros à
prisão, mais exatamente no Quartel 3º Batalhão da Guarda da Brigada Militar.
Ainda guardo com
carinho uma foto de meu pai e seus correligionários, todos encarcerados durante
os primeiros dias da ditadura militar. Entre eles estavam os Deputados Wilson
Vargas da Silveira, Justino Quintana, Rubens Porciúncula, José Lamaison Porto e
AntonioVisintainer. Meu pai está
sentado ao lado do João Caruso Scuderi e Sereno Chaise. Também foi amigo de
alguns outros homenageados nessa cerimônia, como Hamilton Chaves, Índio Vargas
e Dilamar Machado. Além de preso, teve seu mandato político cassado sob a falsa
alegação de improbidade administrativa, onde sequer tivesse tomado posse.
Graças a ajuda de seus amigos, meu pai continuou assumindo todas as
responsabilidades financeiras. Há, entretanto, uma curiosidade que precisa vir
a público, e isso é importante em termos históricos. Após alguns meses de
prisão, o coronel encarregado do inquérito chamou e disse: “É isso que não está
na história que nós precisamos.” O que dizia o Ruas: “Nós precisamos
rememorar.” “Dr. Ajadil de Lemos, nós investigamos toda a sua vida, seus atos e
a sua carreira pessoal e não encontramos qualquer indício de malfeitos ou
improbidades. Assim sendo, o senhor está liberado após os procedimentos de
praxe.” Ao que o meu pai, Ajadil de Lemos, respondeu: “Prezado senhor, eu esperava
que o senhor me dissesse isso mais cedo ou mais tarde, mas considero que não
somente a minha prisão é injusta, é injusta também a prisão de todos os meus
companheiros. Por esse motivo, me recuso a ser libertado e só sairei da prisão
quando o último dos meus companheiros for também libertado.” (Palmas.)
Ajadil só aceitou a
liberdade quando o seu último companheiro, Wilson Vargas, foi libertado. Os
dois saíram juntos, e de cabeça erguida, desse Quartel do 3º Exército. Mais que
uma pessoa coerente, o meu pai foi também um teórico do trabalhismo, graças à
enorme influência de Arlindo Pasqualini. Gostaria de finalizar lendo para vocês
alguns trechos de uma carta enviada a mim por Ajadil de Lemos, em 13 de
setembro de 1970, e que até os dias de hoje me parece atual. Meu pai começa
dizendo – nessa ocasião Adail Ivan estava preso na fortaleza de Santa Cruz, no
Rio de Janeiro; hoje ele é um médico psiquiatra, com doutoramento na Inglaterra
–: “Posso avaliar, sim, e penso avaliar, dizia Adail. Bem, teu estado de espírito,
já agora depois de um ano e um mês de prisão, particularmente depois da tua
absolvição em 23 de julho e da ameaça de dois novos processos, mas como dizes,
ainda mais que a acusação, o pior é o ambiente físico e psicológico a que tem
sido submetido, prolongando a pressão moral da primeira fase das torturas e
humilhações a que só os bravos de alma conseguem resistir e superar, mesmo
amargando a face da revolta íntima.” Dizia o Dr. Ajadil, ao filho. Dois
parágrafos abaixo, esse pai, amigo e companheiro, se refere a Adail Ivan, seu
filho, as minhas vicissitudes com extrema humildade. Vejam bem o que o pai diz
ao filho: “Meu consolo é que serás, daqui a 20 anos, o líder que não pude ser, talvez mesmo por falta da tua experiência pessoal que nos tempos de moço,
é que o sofrimento político chegou tarde em minha vida, pois só ele, em
verdade, ensina as lições novas da história, abrindo rumos e horizontes além
daqueles que bastaram ao conformismo e à cupidez dos conservadores e
reacionários. Pode ser que ainda tenha olhos para ver e sentir a realização dos
teus ideais, que também são mais nobres. Ninguém, nem mesmo o meu pai – diz
Adail Ivan –, poderia prever que o regime militar iria durar tanto tempo, e que
menos 20 anos depois do seu final, ainda iria perseguir e dificultar a carreira
dos seus opositores.
Ele termina a sua
carta dizendo: em todo o caso, este é o problema do destino de cada um que nem
sempre coincide com os estreitos limites da vida individual. O importante,
contudo, é sabermos do valor da nossa vida no que passa a ter de mais alto e
mais nobre, jamais simplesmente vivê-la como eunucos ou moluscos. O futuro
espera por ti, meu filho”.
Gostaria de
finalizar, dando a seguinte contribuição: hoje, eu, Adail Ivan de Lemos, filho
de Ajadil de Lemos, que me deu o nome de seu irmão mais velho, sou Presidente
do Movimento Raízes Trabalhistas no Rio de Janeiro e digo em alto e bom som:
não podemos nos afastar do trabalhismo! Não podemos perder o fio da história
que começou com Getúlio, continuou com Jango, evoluiu com a fundação do PDT. O
Partido Democrático Trabalhista deverá ser a síntese dessa revolução histórica
e da evolução presente. Não podemos nos afastar de nossas origens políticas e
ideológicas e nos transformarmos num partido sindicalista simplesmente auxiliar
do Governo Federal. Vamos retomar o trabalhismo de Arlindo Pasqualini, Ajadil
de Lemos e Leonel Brizola. Vamos voltar a ser sempre o que fomos.
Muito obrigado por
escutarem. Elói Flores, Adail Ivan e Ajadil de Lemos. Muito obrigado a todos.
(Palmas.)
(Não revisado pelo
orador.)
O SR. PRESIDENTE (Professor Garcia): Muito
obrigado, Sr. Elói Flores.
Convidamos para fazer
uso da palavra o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre, Sereno Chaise.
(Palmas.)
O SR. SERENO CHAISE: Srs. Vereadores, Professor
Garcia, ilustre Presidente desta Casa; Sras. Vereadoras, eu pertenço a uma
geração perigosa quando vê um microfone. O Presidente já me alertou que são no
máximo 30 minutos; eu espero não passar dos 15 ou 20 minutos.
Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu tenho uma
inclusão muito grande com esta Casa. Dos antigos, daquela geração antiga,
cassada pelo Golpe de 64, eu vejo muitas figuras aqui: o meu velho amigo Elói
Guimarães, do nosso velho PTB; lembro-me do pai do Elói, lá na Vila Floresta,
chefiando o nosso partido. Vejo muitas figuras antigas.
Usarei apenas meio
minuto para dizer o seguinte: jamais me considerei vítima e também nunca tive
contas a ajustar com ninguém. Sou um pouco fatalista, acho que o que ocorreu
pertence ao passado. Nunca alimentei sentimentos inferiores de odiosidade, de
inveja, de vingança ou coisa parecida; nunca. Sempre tratei de olhar a vida
para frente. Tenho a convicção de que em 64 quem perdeu não fomos nós, os
cassados, figuras brilhantes cujos nomes já foram citados aqui – o Glênio, o
Marcão, o Dilamar, meu grande amigo; quem perdeu foi a Cidade, perdeu esse
conjunto de homens públicos da melhor qualidade. (Palmas.)
Naqueles poucos
quatro meses, eu obtive do Presidente João Goulart... Porque eu fiz a campanha,
aqui, na base de dizer que o dinheiro eu ia obter do Governo Federal, já que
era Presidente o companheiro e amigo pessoal João Goulart. Então, naqueles
quatro meses eu obtive o primeiro empréstimo para a Prefeitura, o equivalente a
dois orçamentos anuais. O Pampa 45 foi aprovado pela Câmara no dia 22 de
novembro de 1963, pelas antigas, pelas velhas bancadas. Os novos Vereadores,
evidentemente, ainda não tinham assumido. Data trágica: eu estava na Câmara não
era aqui, era lá no Edifício da Prefeitura, 14º andar, depois o 13º também, eu
estava lá às 6 h da tarde quando chegou a notícia da morte do Presidente John
Kennedy, foi no dia 22 de novembro de 1963. E a Câmara aprovou aquele projeto
para o qual o Hamilton me ajudou muito. O Otávio Caruso da Rocha, o Álvaro
Petracco da Cunha também, daquelas figuras antigas. Um plano que previa uma
inversão grande dos investimentos para os próximos quatro anos; sistema viário,
sistema de abastecimento de água – a Hidráulica do Menino Deus era um projeto
de cinco etapas, estava feita só a primeira etapa e eu queria concluir as
outras quatro. Tínhamos recursos federais para isso, então, como eu digo, quem
perdeu foi a Cidade, infelizmente. Eu sou um homem que está realizado na vida, tenho
a minha família, tenho netos aqui presentes, vou agora, na semana que vem, para
os 86 anos, não é brincadeira, e não alimentei esses sentimentos inferiores. Eu
disse que tenho uma inclusão muito grande com esta Casa, porque eu fui Vereador
titular de 1952 a 1955. Imaginem, chegar em Porto Alegre em 1945 para estudar,
com a roupa num saquinho de sal. Sete anos depois eu era Vereador. (Palmas.)
Constituímos a maior bancada do velho PTB, Temperani Pereira, Josué Guimarães,
Geraldo Brochado da Rocha, eu, Leopoldo Machado, Coronel Lúcio Marques, o Dilvo
Araújo, éramos a maior bancada. Fui líder da bancada, fui presidente da Câmara,
em 1955, e depois fui para o Estado, em 1958, para a Assembleia, quando Brizola
foi para o Palácio. Bom, passados quatro ou cinco anos, me joguei na campanha
de 1963. Ganhamos bem as eleições, com mais de 50% dos votos. O Ajadil de Lemos
fez mais de 45%. Naquele tempo se votava separado para prefeito e para
vice-prefeito. Bom, depois daquele período veio a revolução, 20 anos praticamente,
até que sobreveio a anistia. Muitos episódios no decorrer desse tempo. Logo
depois que sobreveio a anistia, o Ver. Cleon, que foi por 11 ou 12 anos
presidente da Câmara, teve a coragem de me convidar para diretor-geral, e eu
que havia sido Vereador titular, tinha sido presidente, sem qualquer restrição
fui para lá, assumi durante três anos a chefia administrativa da velha Câmara
no edifício da Prefeitura.
Dessa época, lembro
bem de dois episódios marcantes: o Marcão e o Glênio foram cassados, sobreveio
a anistia e ainda estava dentro do período de mandato deles – eles tinham sido
cassados, mas o mandato era de quatro anos, e antes do término do prazo
sobreveio a anistia – e o Cleon teve a coragem de reempossá-los como Vereadores
titulares. (Palmas.) E nós sofremos uma pressão, era telefonema do Petrônio
Portela, Ministro da Justiça da época, e falavam claramente: “Vamos fechar a
Câmara, vamos extinguir a Câmara de Porto Alegre”. Ameaças dessa natureza, mas
o Cleon aguentou firme, e o Marcão e o Glênio terminaram os seus mandatos.
Outro episódio que me
marcou muito foi o Prefeito Guilherme Socias Villela, que levava pessoalmente
as mensagens à Câmara. Chegava lá e a primeira coisa que fazia era ir direto na
minha sala; devo essa atenção a ele, meu amigo desde essa época, um homem
realmente voltado para os melhores interesses de Porto Alegre.
Depois veio 64.
Aliás, a única consideração: o golpe não nasceu em 1964, o golpe nasceu em
1954, quando os generais reunidos no Ministério da Guerra decidiram que o
Presidente Getúlio entraria em licença com a condição de não voltar mais, de
não pretender voltar. E quando o General Âncora levou, em nome do exército,
essa proposta ao Dr. Getúlio, este recusou na hora. E o resto da história nós
conhecemos: ele se deu um tiro, e o povo foi para as ruas. Eu nunca vi
manifestação popular nas ruas como a de 1964. O povo realmente tomou as ruas do
País, e aí os golpistas fizeram como tatu, entraram para a toca e ficaram bem quietinhos. Depois tentaram, de novo, no 11 de novembro.
Juscelino foi eleito
com 39% dos votos, mas, na época, a legislação eleitoral não exigia maioria
absoluta – e eram vários candidatos; Juarez Távora, 30% e assim por diante. E o
Lacerda levantou a tese: não pode assumir porque não fez maioria. A lei não
exigia. Criou um mal-estar e uma apreensão no País inteiro; o Lott botou os
tanques na rua e declarou posse ao eleito. Ficaram quietos, novamente.
Depois, veio o
triunvirato militar, Ministros do Exército, da Aeronáutica e da Marinha: “O
Vice não pode assumir”. E aí o Rio Grande levantou-se sob o comando do
Governador Leonel Brizola. Respeito à Constituição: para que existe o Vice?
Justamente para isso: no caso de impedimento, morte ou renúncia do titular. É
uma tese simples, clara, objetiva, que empolgou a alma do Rio Grande. E nós
conhecemos a história. Os golpistas tiveram que recuar novamente.
Fortaleceram-se para 64. Vejam o seguinte: os governadores dos mais expressivos
Estados da Federação – Lacerda, no Rio; Magalhães Pinto, em Minas Gerais; Adhemar
de Barros, em São Paulo; o Major, no Paraná; e o Meneghetti aqui no Rio Grande.
Os cinco mais expressivos Estados da Federação, com as suas forças públicas,
quer dizer, isso era uma força política tremenda. Restava o quê? O Norte, o
Nordeste, Santa Catarina. Então, a conjunção de forças em 64 foi realmente
gigantesca. Acrescido a isso a questão da inflação – o País estava numa fase de
quase 70% de inflação ao ano. Isso fez com que nós, em 64, não tivéssemos o
apoio popular de 61, devido fundamentalmente à questão da inflação. Pois bem,
ultimaram o golpe. Nos idos de abril – eu fui
cassado no dia 8 de maio –, a primeira relação aqui do Estado, antes de fins de
abril, saíram as relações nacionais, em São Paulo e Rio; aqui no Rio Grande do
Sul a primeira foi em 8 de maio. Logo depois, eu recebi, num belo dia, na
Prefeitura, o Chefe do Cerimonial do Palácio, que me disse: “Prefeito, vem aqui
o embaixador americano, e nós reservamos a noite tal para Prefeitura oferecer
um banquete a ele”. E eu disse: “Olha, nós aqui na Prefeitura estamos num
regime drástico, violento mesmo, de economia, nós não vamos oferecer banquete”.
“Mas o senhor o recebe?” Eu disse: “Evidentemente, é um embaixador de um país
que tem relações conosco”. Ficou combinado que naquele dia às 16h haveria a
recepção. Chegou lá o Lincoln Gordon – que depois deixou de ser Embaixador no
Brasil, voltou a ser professor universitário e escreveu um livro, onde
comentaria tudo que nós vimos na época: a interferência americana através da
CIA, do Golpe, a 7ª frota americana aqui nas nossas costas, comandada pelo
porta-aviões Forest Fall, mais sete ou oito navios de guerra – tudo isso está
dito por ele no livro que ele escreveu depois. E nesse dia – eu nunca falei
desse jeito –, mas não sei, foi uma coisa de inopino. Ele chegou, serviram o
cafezinho, e eu cometi a bobagem de perguntar: “O que o senhor achou,
Embaixador, desses acontecimentos recentes em meu País?” Esperando que ele
viesse com aquela clássica resposta diplomática: “É um assunto interno, não cabe
a nós apreciar o problema interno”. Ah! Ele saiu logo: “Aquela esculhambação
não podia continuar, tivemos que interferir para o país não cair nas mãos do
comunismo”. E eu, instantaneamente, sem refletir, larguei a xicrinha do café,
levantei e disse: “Embaixador, obrigado pela visita”. Ele embraveceu, saiu, sem
se despedir, porta afora. (Palmas.) Pelos exilados, lá em Montevidéu – e o
Dilamar foi quem me referiu isso –, havia muita crítica a mim, por ter recebido
o Embaixador, e eu disse depois, quando fui lá novamente a Montevidéu, que se eu
fosse embaixador da Rússia, seria uma questão protocolar. Isso não tem nada a
ver com comunismo, com capitalismo; isso é uma questão protocolar. Eu não podia
negar. Neguei-me a oferecer banquete, agora, a receber um embaixador de um país
que tem relações conosco, evidentemente eu não podia fazer. Bem, passou um
pouco de tempo, no verão de 1965, eu fui novamente a Montevidéu e na volta
parei em Maldonado, onde eu tinha combinado com o Presidente João Goulart de
almoçar. Fiquei lá toda a tarde e conversamos muito. Ele, inclusive, me disse a
certa altura: “Se eu houvesse resistido, e faria, e estou até hoje pronto a
pagar qualquer preço para evitar que corra sangue entre irmãos, de brasileiro
contra brasileiro, eu teria ganhado a parada. Mas o Brasil ficaria da Bahia
para baixo, porque essa 7ª frota tinha 30 mil mariners para desembarcar, e acham que eles estavam preocupados com
a Paraíba, Rio Grande do Norte ou com o Ceará? Não, a joia da Coroa é a
Amazônia, e se esses mariners
tivessem desembarcado ali [Isso quem me disse foi o Presidente João Goulart, em
Maldonado.], eu ganhava, mas nós jamais tiraríamos os mariners da Amazônia”. Mas isso pertence ao passado. É muito
interessante a leitura deste livro do Lincoln Gordon, porque ele diz, com todas
as letras, o que diziam os nossos adversários: isso é dor de cotovelo deles que
perderam a parada. Nós perdemos a parada, mas quem perdeu foi o Brasil. Ninguém
ganhou. A verdade é esta: ninguém ganhou. O País teve essa noite negra de perseguições,
de insegurança, de tortura, de morte. Quantas vítimas da ditadura! Inclusive,
agora, está vindo, finalmente, à flor a história do Deputado Rubens Paiva.
Então, eu estive aqui na semana passada e conversei com os Vereadores, com o
Ver. Alberto, com o Presidente, com o Pedro Ruas, conversei com todos e disse a
eles que não gostaria de Resolução. Eu acho que a homenagem é correta. Eu acho
que esses fatos da história devem ser lembrados, mas não como quem põe o dedo
em uma ferida para sair mais sangue. Não, deve ser lembrado no sentido de
alertar para que nunca mais ocorra no nosso País um período como esse.
(Palmas.) É nesse sentido que eu recebo, com humildade, esta homenagem da
Câmara de Vereadores, na qual não há nenhum objetivo prático, concreto, o
Prefeito é o nosso Fortunati. A história nós não apagamos, nem alteramos, ela
está registrada. Mas é bom lembrar, sobretudo – repito – para que nunca mais
ocorra um período desses na história do nosso País. Muito obrigado a todos.
(Palmas.)
(Não revisado pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (Professor Garcia): Obrigado, Sr. ex-Prefeito de Porto Alegre, Sereno
Chaise. Informo que, logo após este evento, nós vamos ter o período temático de
Comunicações aqui mesmo, com o tema específico: Memória, Verdade e Justiça, com
três palestrantes: o Sr. Roberto Caldas, Juiz e Vice-Presidente da Corte
Interamericana de Direitos Humanos; Dr. Ivan Cláudio Marx, Procurador Federal,
e o Prof. José Carlos Moreira da Silva Filho, Conselheiro da Comissão Nacional
de Anistia.
Senhores e Senhoras, a Câmara Municipal de Porto
Alegre acredita que, com este gesto e este ato, está reconstituindo parte da
nossa história.
Queremos agradecer a participação dos senhores e
das senhoras e, de forma acolhedora, dizer que aos homenageados que se sintam
em casa, porque, repito: fizeram e fazem parte da história de Porto Alegre, do
Rio Grande do Sul e do Brasil. Muito obrigado a todos e faremos um rápido
intervalo para as despedidas.
Estão suspensos os trabalhos.
(Suspendem-se os trabalhos às 15h47min.)
O SR.
PRESIDENTE (Professor Garcia – às 15h56min): Estão reabertos os trabalhos da
presente Sessão.
Passamos às
Hoje este período tem como tema Memória, Verdade e Justiça.
Convidamos para compor a Mesa o Sr. Roberto Caldas,
Juiz e Vice-Presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos; o Sr. Ivan Cláudio Marx, Procurador Federal; o Sr. José Carlos Moreira da
Silva Filho, Conselheiro da Comissão Nacional de Anistia. Senhoras e senhores,
todos estão convidados a participar dos debates sobre o tema Memória, Verdade e
Justiça.
O Sr. Roberto Caldas, Juiz e Vice-Presidente da
Corte Interamericana de Direitos Humanos, está com a palavra.
O SR. ROBERTO
CALDAS: Boa tarde, senhoras, senhores, Presidente Professor Garcia, os nossos
agradecimentos pelo convite; eminente Ver. Alberto Kopittke, nossos melhores
agradecimentos e reconhecimento pela importância histórica deste ato aqui
realizado, já iniciado com uma belíssima homenagem a quem tem tanto mérito pela
luta democrática para o nosso País, para o Estado do Rio Grande do Sul e para
Porto Alegre. Cumprimento meus colegas de Mesa – Dr. José Carlos Moreira da
Silva Filho, da Comissão de Anistia; Dr. Ivan Cláudio Marx, Procurador da
República, membro da força-tarefa do caso Guerrilha do Araguaia. É uma
satisfação dividir este momento com vocês, este momento em que tratamos da
memória, da verdade e da justiça. Eu quero concentrar a minha manifestação no
aspecto justiça. Como Juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos, e tendo
participado no caso Guerrilha do Araguaia como juiz ad hoc, ou seja, juiz indicado pelo Estado brasileiro para julgar
aquele caso, creio ser absolutamente relevante lembrar que nós não estamos
neste tempo, neste 50º ano do Golpe de Estado de 31 de março de 1964, a buscar,
apenas investigar, julgar e punir. Mas mais que isso, nos preocupamos em
resgatar a memória, em resgatar a imagem das pessoas que, muitas vezes,
heroicamente, emprestavam seus serviços à Nação e, em dado momento, da noite
para o dia, eram sacados dos cargos, eram destituídos da representação
política, como muitas vezes ocorreu. Aliás, o Ato Institucional nº 01 foi
exatamente no sentido de restabelecer a possibilidade de cassação de mandatos
pelo poder militar então instituído. Mas, o importante em que quero me
concentrar é dizer que estamos buscando passar a limpo também no aspecto
justiça. É fundamental, e essa consideração a Corte Interamericana teve em
conta, que, ao analisar a validade da Lei da Anistia de 1979, a Corte entendeu
que essa lei é nula de pleno direito no que se refere a anistiar agentes do
Estado. E por que ela é nula de pleno direito? Porque não se concebe uma lei
criada por autores que cometeram crimes para se autobeneficiar. Por um aspecto,
a Corte Interamericana entendeu que não pode existir lei de autoanistia no
continente americano.
Em segundo lugar, ainda que não fosse lei de
autoanistia para os próprios agentes que pensaram aquela redação e assim querem
interpretar, não pode haver anistia de crime grave contra direitos humanos ou
crime de lesa-humanidade, vale dizer: sequestro, desaparecimento forçado,
tortura. Esses crimes atrozes que não maltratam apenas as vítimas, aqueles que
são diretamente vitimizados, mas toda a humanidade diante do terror dos atos
praticados, pior, em nome e com as forças do Estado.
Por isso, a Corte Interamericana de Direitos
Humanos, já em novembro de 2010, ao analisar a validade da Lei da Anistia
entendeu que ela não pode continuar a surtir efeitos no Brasil, aliás, na linha
jurisprudencial que já vinha adotando em relação a outros países. Com a
contribuição, aliás, de um juiz brasileiro que me precedeu, Juiz Antônio
Augusto Cançado Trindade, que hoje é Juiz na Corte de Haia. Cançado Trindade
foi um dos mais ativos juízes na busca de processamento, julgamento e punição
daqueles que cometeram crimes graves contra direitos humanos, quer no Peru, no
Chile, enfim, em diversos países da região – Guatemala, El Salvador – de forma
que foi-se consolidando uma jurisprudência que permitiu chegar ao caso Guerrilha
do Araguaia em que, por unanimidade, a Corte Interamericana de Direitos
Humanos, por oito votos – porque eram sete titulares e mais a minha presença
como juiz ad hoc –, entendeu que a
Lei da Anistia não pode continuar valendo. Essa interpretação, Sr. Presidente,
Sras. Vereadoras, Srs. Vereadores, senhoras e senhores, é uma interpretação que
decorre da Convenção Americana sobre direitos humanos, também conhecido como
Pacto de São José da Costa Rica, livremente assinado, ratificado pelo Brasil.
Portanto, conforme já entendeu o Supremo Tribunal Federal, é uma norma, é uma
lei de caráter superior, acima mesmo das leis ordinárias federais, que, por
enquanto, pela compreensão do Supremo atualmente, está apenas abaixo da
Constituição, mas é válida e exigível imediatamente. Foi interpretando a
Convenção Americana de Direitos Humanos que se decidiu, dentre os marcos
necessários para cumprir essa determinação de invalidar a Lei da Anistia, que
se conduzisse eficazmente, perante a jurisdição ordinária, não militar, diga-se,
a investigação penal dos fatos a fim de esclarecê-los, determinar
responsabilidades e aplicar, efetivamente, as sansões e consequências que a lei
assim preveja e realizar todos os esforços para determinar o paradeiro das
vítimas desaparecidas, e, se for o caso, identificar e entregar os restos
mortais a seus familiares – trabalho que vem sendo exercido pelo Grupo de
Trabalho Araguaia. Tipificar o delito de desaparecimento forçado de pessoas,
que ainda não está tipificado no Brasil. Então precisamos editar uma lei
específica, embora não haja dificuldade de realizar a punição por outros crimes
conexos a esses.
Gostaria, Sr. Presidente, de encerrar reafirmando a
minha honra em participar deste momento aqui na Câmara Municipal de Porto
Alegre, uma cidade que há muito me é tão grata, de celebrar, sim, nesses 50
anos do golpe, a liberdade democrática que hoje vivemos, a liberdade de agir,
de legislar, de falar, de expressar ideias, de investigar, de julgar e punir
quem quer que seja, especialmente por crimes graves contra direitos humanos que
a humanidade não pode tolerar, a humanidade não pode esquecer. E, por isso, a
Jurisdição Internacional garante que esses crimes não podem prescrever e não
podem ser anistiados. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisado pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (Professor Garcia): Obrigado, Dr. Roberto Caldas. O Sr. Ivan Cláudio
Marx, Procurador Federal, está com a palavra.
O SR. IVAN
CLÁUDIO MARX: Boa-tarde a todos. Gostaria de agradecer pelo convite, principalmente ao
Ver. Alberto. Eu acho fundamental este espaço, este momento para falarmos sobre
o tema. Quero agradecer por esta oportunidade de participar com tão ilustres
colegas de Mesa – o Dr. Roberto Caldas, o José Carlos Moreira – em que se
juntam aqui vários protagonismos diferenciados na efetivação do direito à
justiça, à verdade e à memória no Brasil. Gostaria de lembrar que o Rio Grande
do Sul tem alguns protagonismos, nós temos atividades interessantes da
sociedade aqui: temos aqui o Raul Ellwanger, representante do Comitê
Carlos da Ré; temos o Movimento Justiça e Direitos Humanos, do Jair Krischke. Essa
iniciativa do Legislativo Municipal é muito interessante em devolver, mesmo que
simbolicamente, o direito aos cassados. Isso vem não a refazer a história, mas
a relembrar e, de alguma forma, fazer o mínimo de justiça.
Nós temos o protagonismo da Comissão de Anistia no
Brasil, que vem fazendo um trabalho excelente, principalmente a partir de 2008,
neste tema em que o Professor José Carlos é o Vice-Presidente, um dos representantes
aqui.
Nós temos o protagonismo da Corte Interamericana de
Direitos Humanos, representada agora pelo Dr. Roberto Caldas, em que, na época,
num excelente voto, como juiz ad hoc,
se considerou que a Lei da Anistia brasileira era totalmente inconvencional e
inaplicável para qualquer situação jurídica no Brasil.
E, por fim, o protagonismo do Ministério Público
Federal. Eu pretendo apenas contar-lhes um pouco das nossas atividades para que
tenham uma noção do que a gente vem realizando e de como a sociedade civil pode
e deve nos ajudar nas suas variadas formas.
Nós temos um protagonismo, aqui no Rio Grande do
Sul, por ter sido a primeira investigação por crimes da ditadura pelo
Ministério Público Federal em 2008, em Uruguaiana, justamente por sequestro de
argentinos, na época em que fui Procurador naquela cidade.
Posteriormente, em 2009, tivemos investigações na
região do Araguaia. E, com isso, após a decisão da Corte Interamericana, a 2ª
Câmara Criminal, que é coordenada pela Dra. Raquel Dodge, resolveu criar,
então, um grupo específico para tratar desses crimes, que é o Grupo de Trabalho
Justiça de Transição, que eu coordeno nacionalmente, com o objetivo de contatar
todos os Procuradores da República que teriam atribuição para processar crimes
contra a humanidade e subsidiá-los com doutrina, com trabalho físico mesmo, com
auxílio nas oitivas, na concatenação das investigações e possibilitar o
andamento dessas ações penais. Com isso, dando cumprimento à sentença da Corte
Interamericana, nós ingressamos, em março de 2012, com a primeira ação penal
por cinco sequestros no Araguaia, contra o conhecido Major Curió, que, depois,
foi intendente da Serra Pelada. Quando surgiu o movimento dos sem-terra no Rio
Grande do Sul, o Major Curió foi chamado para tentar contê-lo, e, após usar as
suas táticas de cercamento e passar mais de um mês aqui, acabou desistindo, ou
seja, não suportou a teimosia gaúcha, surgindo aquela frase célebre “em terra
de quero-quero, curió não canta de galo”.
Posteriormente, ingressamos com mais sete ações
penais. Então, nós temos oito ações penais já, entre São Paulo, Rio de Janeiro
e o Araguaia por crimes de sequestro, crime de ocultação de cadáver e crime de
tentativa de homicídio, que foi o famoso caso Riocentro, que, para aqueles que não
sabem, teria sido o maior atentado da América Latina, quando a ala mais
ferrenha da direita queria fazer um atentado jogando a culpa nos movimentos de
esquerda, e, com isso, endurecer, uma vez mais, a ditadura militar, que nessa
época vinha falando em distensão lenta e gradual.
Então, em 1981, tivemos essa tentativa de atentado
– por sorte as bombas estouraram antes, matando um militar –, que envolveria um
show de rock no Riocentro, em que estariam em torno de 20 mil pessoas,
inclusive importantes artistas brasileiros, como Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Esse teria sido o maior atentado da América Latina.
Além disso, tivemos alguns revezes, também, no
Ministério Público Federal, com arquivamentos que, de fato, entendo que não
correspondam à melhor atitude do Ministério Público Federal, mas toda
instituição caminha tentando progredir. E foi o próprio Ministério Público
Federal que arquivou a investigação penal do João Goulart, inclusive está aqui
o seu neto Christopher, que há muito trabalha com esse tema. E em razão disso,
havendo uma impossibilidade, naquele momento, de conseguir um desarquivamento
para enfrentar essa, digamos, coisa julgada, eu acabei solicitando que a
Argentina o investigasse – eu fiz isso como cidadão estrangeiro; então, temos
uma investigação penal, na Argentina, onde faleceu o João Goulart. Mas nós
temos, aqui em Porto Alegre, com a colega Suzete Bragagnolo, a investigação
cível para tentar apurar o que aconteceu e esclarecer a verdade, onde foi feita
inclusive a exumação, junto com a Secretaria de Direitos Humanos e a Comissão
da Verdade.
Ultimamente, nós estamos tentando, até a partir de
uma representação que eu recebi do Movimento de Justiça e Direitos Humanos
daqui de Porto Alegre, criar um procedimento, em Porto Alegre, para conseguir o
tombamento da Ilha do Presídio. E nesse sentido eu estava conversando também
com o Raul para tentarmos fazer algo no mesmo sentido para o Dopinha. São
medidas necessárias para esclarecer, para que a população saiba o que realmente
aconteceu, para devolver a dignidade a esses locais e transformá-los – locais
antigos de tortura – em espaços de memória, para que se relembrem esses fatos e
com isso, dentro do possível, se tente impedir – porque não há como impedir de
fato – que esses acontecimentos tornem a ocorrer.
Por fim, eu gostaria só de aclarar para vocês o que
entendemos por crime contra a humanidade, que é o que norteia as nossas
investigações, para demonstrar que esses crimes são muito suscetíveis de
prescrição e suscetíveis de anistia. O crime contra a humanidade é aquele que
fere o ser humano como animal político. Então, quando se tem um Estado em que
cada ser humano abre mão de parcela de sua soberania, em troca dessa parcela da
nossa individualidade que entregamos, o Estado nos garante proteção e outras
assistências, inclusive frente à criminalidade, fazendo trabalho de contenção
do crime e de investigação posterior. No entanto, quando é o próprio Estado
que, desvirtuando todo esse sistema, pratica esses crimes ou permite que esses
crimes sejam cometidos com o seu apoio, nós estamos dentro de uma total
desvirtuação do conceito de vida em sociedade, e o ser humano é atingido,
então, como um animal político, porque ele não tem mais, politicamente, nenhuma
forma de proteção. Com base nisso, também surge uma outra teoria que nós
utilizamos para dizer que a prescrição frente aos crimes cometidos pelo Estado,
com o seu apoio, só começa a ocorrer quando o Estado realmente foi
redemocratizado e os impedimentos legais não existem mais. Imaginemos os crimes
cometidos durante a ditadura no Brasil em que, cometidos desde o próprio Estado
por seus agentes, eles obviamente não eram punidos, porque o estado não queria
se autopunir. Posteriormente, eles criam uma autoanistia que impede a
investigação desses crimes, para depois alegarem que os crimes estão
prescritos. Então, nesse entendimento, que já foi utilizado, inclusive pela
Suprema Corte do Chile, a prescrição só começa a ocorrer quando a possibilidade
de punição é contingente, ou seja, quando definitivamente afastada a Lei da
Anistia nesses países, o que no Brasil somente poderia ser considerada a partir
da decisão da Corte Interamericana
em 2010.
Dessa forma, esses são alguns dos critérios que nós
utilizamos, essas são algumas das matérias com as quais temos trabalhado, assim
como, também dando cumprimento à decisão da Corte Interamericana, nós
entendemos que a simples presença de dois Procuradores da República em Marabá
para investigar toda a guerrilha do Araguaia era insuficiente, e criamos uma
força tarefa chamada força tarefa Araguaia com mais sete colegas; estamos,
então, entre nove colegas investigando os crimes ocorridos na guerrilha, que
envolveram em torno de 68, 70 esquerdistas, por eles chamados de guerrilheiros,
com a intenção de esclarecer o que aconteceu, localizar os restos mortais
também, mas principalmente punir os crimes cometidos.
Desta forma, Sr. Presidente, encerro esta prévia
exposição que tem mais o sentido de explanar um pouco sobre o que o Ministério
Público Federal vem fazendo, sobre quais as nossas possibilidades de auxiliar a
justiça transicional brasileira e solicitando, como sempre fazemos, a toda
sociedade que nos procure, que nos relate casos, nos auxilie com a
identificação de centros de memória para serem tombados e criados locais de
memorialização, de forma que esta instituição está aberta a qualquer tipo de
auxílio para que essas coisas sejam esclarecidas e não mais se repitam.
Obrigado. (Palmas.)
(Não revisado pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (Professor Garcia): Muito obrigado. Convido agora, para fazer seu
pronunciamento, o Sr. José Carlos Moreira da Silva Filho, Conselheiro da
Comissão Nacional de Anistia.
O SR. JOSÉ
CARLOS MOREIRA DA SILVA FILHO: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras, Srs. Vereadores,
inicialmente, eu quero enaltecer esse gesto nobre desta Casa, de reconhecer a
legitimidade dos mandatos que foram cassados pela ditadura civil militar
brasileira em 1964. Quero cumprimentar particularmente a atuação e o empenho do
Ver. Alberto Kopittke, para que este evento acontecesse hoje. Quero
cumprimentar especialmente o Raul Ellwanger, que aqui está, que coordena com
tanto brio e valentia as ações do Comitê Carlos de Ré da Verdade e da Justiça.
Quero fazer um cumprimento especial ao Ver. Christopher Goulart, que aqui está,
neto de Jango, o Presidente que queria colocar em prática tantas reformas
importantes e necessárias para o nosso País e que teve a coragem de assumir
esse desiderato naquele momento histórico, eleito inclusive com um número maior
de votos que o próprio Presidente Jânio Quadros e que, vergonhosamente, foi
destituído do seu cargo legítimo quando ainda estava no País, de forma
totalmente inconstitucional.
Quero cumprimentar meus colegas de Mesa, Dr.
Roberto Caldas, nobre Juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que
teve uma atuação fundamental tão importante nessa ação que ficou conhecido como
caso Araguaia, que fez um voto brilhante como juiz ad hoc, que disse com todas as letras o que estava em jogo naquela
causa, que era a análise e a possibilidade de responsabilização de crimes de
lesa-humanidade que o nobre Procurador Ivan Marx tão bem explicou para todos
nós. Quero, também, na pessoa dele, cumprimentar o trabalho que vem sendo feito
pelo Ministério Público Federal, pelo grupo Justiça de Transição, que
recentemente, num evento histórico ocorrido na cidade do Recife, de 10 a 14 de
março deste ano, um evento coordenado pela Comissão de Anistia do Ministério da
Justiça, veio, juntamente com seus colegas, colocar a público – me parece que
pela primeira vez num evento dessas dimensões, com familiares de mortos e
desaparecidos políticos, acadêmicos de 16 países ali presentes, estudantes,
professores –, veio colocar claramente para a sociedade brasileira quais são os
esforços, as teses, as ações que estão em curso para responsabilizar os crimes
da ditadura civil militar brasileira, trazendo inclusive em primeira mão
detalhes da investigação do caso Riocentro, que é um caso anômalo na nossa
história, porque sob a desculpa da Lei de Anistia, que foi editada em 1979, foi
impedido de ser investigado, de ser esclarecido e de se estabelecer as
responsabilidades. Ou seja, nós temos uma anistia realmente bem peculiar, na
medida em que ela não só funcionou para trás, mas também para frente, para
anistiar crimes que aconteceram mesmo depois da sua edição. Quando nós falamos,
portanto, em memória, verdade e justiça, estamos falando de três assuntos que
não podem ser dissociados. E esse é o espírito que coordena a ideia da justiça
de transição. Nós falamos em reparação, em verdade, em memória, em justiça, em
reforma das instituições de segurança, mas de uma tal forma que não é possível
separar todos esses elementos, indispensáveis para um aprofundamento
democrático.
Quando pensamos na memória, devemos primeiramente
assumir que não há assunto mais atual do que a memória. O futuro nos parece
ainda indefinido. Nós podemos projetar uma série de planos, uma série de
possibilidades, mas o passado, a experiência política que nós tivemos e que
alimenta o presente que estamos tentando construir, este é bem concreto, não só
naqueles episódios de violência, de injustiça, de pusilanimidade, mas também
naqueles sonhos, naqueles projetos, naqueles planos que ficaram pelo caminho.
Pensar no passado é algo perigoso sob o ponto de vista político, mas
necessário. É perigoso por quê? Porque coloca em cena novamente a possibilidade
de projetos e de ações que nos remetem à ideia de origem e não à ideia de um
início que se perdeu no passado. E a origem nos remete à ideia de fonte, como
algo inesgotável, como algo rico, que produz, que alimenta, que inspira as
nossas ações. Nós aprendemos com os nossos antepassados, com a nossa história
de sofrimento e com a nossa história de coragem e de resistência. Então, quando
invocamos essa memória e esse ingrediente político, nós devemos também ter a
coragem de trazer à tona uma verdade. A verdade que, aqueles se opuseram contra
a ditadura militar instaurada no Brasil em 1964, não eram terroristas, não eram
sequer criminosos políticos, porque, se nós pegarmos uma obra muito importante
de um jurista como Heleno Cláudio Fragoso, chamada Terrorismo e Criminalidade
Política, ele vai dizer com todas letras, com que eu concordo inteiramente, que
o crime político é aquele praticado contra um estado democrático, um estado
legitimo e não um estado ditatorial usurpador, como reconheceu recentemente o
nosso Congresso Nacional ao declarar nula aquela Sessão que disse que estava
vaga a presidência da república com o Presidente João Goulart ainda no País. Ao
tomar essa decisão, o Congresso Nacional também disse o seguinte que todos
aqueles que assumiram a Presidência da República após esse episódio, não podem
ser considerados Presidentes, mas, sim, ditadores, usurpadores do poder
legitimo. Isso é fundamental que se diga e que se reconheça. E aí, meus amigos
e minhas amigas, não estamos falando do passado nostálgico, estamos falando do
início, estamos falando da origem de um Estado Democrático de Direito. Nós
precisamos voltar a pensar nos princípios políticos do nosso País, para que
tenhamos algum futuro político neste País. Nós precisamos nos alimentar
novamente daqueles valores que são indispensáveis para uma democracia e com
relação os quais nós não podemos tergiversar; temos que reconhecer, portanto,
que aqueles que se opuseram ao um estado autoritário, ilegítimo, usurpador,
exerceram o seu legítimo direito de resistência. Nesse ponto, eu até discordo
um pouco da terminologia que foi utilizada na ação movida diante do Supremo
Tribunal Federal pelo Conselho Federal da OAB, dizendo duas coisas que eu acho
que nós temos que repensar, porque estaremos utilizando os termos da ditadura,
dizendo, primeiro, que aqueles que foram perseguidos políticos teriam cometido
crimes políticos. Eu entendi a estratégia, a ideia era dizer que, então, eles
estavam alcançados pela Lei de Anistia de 1979. Mas, de fato, nem mesmo crime
político eles cometeram, eles exerceram o direito de resistência. E do mesmo
modo, aqueles que atentaram contra o Estado Democrático de Direito não
cometeram crimes comuns. Eu entendi a estratégia, a ideia era dizer crimes
comuns, para dizer que não estavam alcançados pela Lei de Anistia, que,
portanto, nem sequer conexos poderiam ser. Mas eu digo aos senhores, esses
crimes são aquilo que o Juiz Roberto Caldas e o eminente Procurador Ivan Marx
aqui disseram: são crimes de lesa-humanidade, são crimes imprescritíveis, e eu
diria até mais uma coisa, são crimes incestuosos porque quando o Estado, que
tem a missão de proteger e zelar pelo bem-estar de seu cidadãos, investe contra
esses próprios cidadãos, ele está violando um dever básico da sua existência
que é o de proteger esses cidadãos e em uma situação ainda pior porque quando o
Estado se volta contra os cidadãos, quem vai dar proteção, guarida para esses
que são perseguidos? Somente um outro Estado que os acolha. E isso aconteceu
com muitos brasileiros e brasileiras que tiveram que sair do País – alguns até
não voltaram –, que tiveram que conduzir as suas vidas em uma outra situação,
longe da sua pátria, longe dos projetos que tinham para o País. Então, quando
falamos em verdade, nós temos que reconhecer esse fato. Não havia nenhuma
ameaça concreta ou real de que houvesse uma tomada de poder pelas armas naquele
momento. Aliás, havia sim. O único grupo que tinha a condição e intenção de
fazer isso o fez, aqueles militares golpistas e os setores da sociedade civil
que os apoiaram. Mas houve militares que disseram não. Houve aqueles que
respeitaram o que estava escrito na Constituição, que foram fiéis ao Comandante
das Forças Armadas, que era o Presidente da República, e que estavam ao seu
lado para resistir se fosse necessário. Um grande cineasta como Silvio Tendler,
também com o apoio da Comissão de Anistia, fez um belo filme a respeito desse
tema que começará a ser exibido inclusive aqui na nossa Cidade a partir da
semana que vem e será exibido na TV Brasil, em cinco episódios, a partir das
23h30 na semana que vem. Não percam. Eu acredito que esse documentário deveria
passar em todas as academias militares do nosso País porque – eu não hesito em
dizer isso – é um dos aspectos mais difíceis da nossa sentença, da Corte
Interamericana de Direitos Humanos, de ser hoje efetivamente cumprida. Nós
temos condições de termos uma formação sólida, ampla e generalizada nas Forças
Armadas em todos os níveis em prol dos Direitos Humanos. Nós temos que ter uma
posição institucional das nossas Forças Armadas, reconhecendo o erro que foi
ter dado aquele golpe naquele momento, ter mergulhado o País em 21 anos de
ditadura, de prisões, de torturas que começam a aparecer mais claramente para
toda a sociedade a partir dos trabalhos importantíssimos da Comissão Nacional
da Verdade e que estão estarrecendo a muitos que achavam que isso não acontecia
ou que não ocorreria.
Gente, negar que houve a tortura é cometê-la
novamente. É extremamente cruel e perverso o negacionismo, porque ele tortura,
mais uma vez, não só as vítimas diretas da tortura, mas toda a sociedade,
porque aqueles que estiveram na linha de frente e tentaram resistir representam
toda a sociedade, porque toda a sociedade foi atingida: suas liberdades, suas
instituições, sua legislação, as suas forças de segurança, o Poder Judiciário.
Nós vivemos essa herança até hoje, nós temos sérias dificuldades de
aprofundamento democrático em função disso, dessa longa herança autoritária que
o Brasil recebeu.
Está mais do que na hora de nós olharmos de frente
esse passado, assumindo tudo o que aconteceu, tudo o que veio, tudo o que
ocorreu, porque é só assim que nós vamos conseguir superar os nossos problemas.
Se nós acharmos que isso é uma coisa que pertence ao passado, no sentido de que
não vale a pena voltar a isso, estaremos simplesmente repetindo os velhos
problemas, estaremos correndo seriamente o risco de repetir a história, porque
não fizemos o necessário dever e o exercício de memória.
Eu vou finalizar a minha manifestação
compartilhando aqui com vocês um trabalho excelente que foi feito pelo Comitê
Carlos de Ré, no sentido de subsidiar a Comissão Nacional da Verdade, no que se
refere a recomendações que o relatório final dessa Comissão fará para a
sociedade brasileira.
O Comitê Carlos de Ré apresentou algumas sugestões,
as quais eu também assino em baixo, que valem para toda a nossa sociedade –
talvez, a Comissão Nacional da Verdade seja um espaço importante para que essas
recomendações apareçam. Primeiro: listar e descrever todas as modalidades e
circunstâncias particulares das graves violações de direitos humanos praticadas
pelo aparato repressivo e institucional da ditadura civil militar brasileira,
caracterizando esse conjunto de maneira explícita como crime de
lesa-humanidade, praticado pelo Estado e que, para serem praticados, deflagram
e perpetuam de modo amplo o terrorismo de Estado na nossa Cidade. Segundo:
orientar o Estado brasileiro, incluindo-se aí os seus três poderes: Executivo,
Legislativo e Judiciário a cumprir integralmente a decisão da Corte
Interamericana de Direitos Humanos no caso da Guerrilha do Araguaia. Pois como
se não bastasse o dever jurídico de obedecer às determinações da Corte
Internacional, vislumbra-se que as diferentes determinações estabelecidas na
sentença apontam para ações indispensáveis para uma necessária reforma das
instituições democráticas ainda não devidamente expurgadas das máculas que a
perversão autoritária ditatorial lhes deixou. Dentre essas deliberações,
destacam-se: a) investigação penal e correspondente responsabilização dos
agentes públicos que praticaram crimes de lesa-humanidade, os quais, por força
de sua definição da legislação e do costume internacional e pelo entendimento
da jurisprudência das cortes internacionais de direitos humanos, são
insuscetíveis de graça ou anistia e são imprescritíveis; b) tipificação legal
do crime de desaparecimento forçado e utilização de todos os recursos jurídicos
domésticos e internacionais para a responsabilização pelos crimes de
desaparecimento forçado já praticados, como, inclusive, já vem sido sugerido e
indicado por diversas ações penais que o Ministério Público Federal tem
iniciado no Brasil, desde a divulgação da sentença da Corte Interamericana de
Direitos Humanos, no caso Araguaia; c) implementação de modo obrigatório e
permanente, em todos os níveis das forças armadas brasileiras, com ênfase
especial para o oficialato, de programas de formação em direitos humanos,
devendo-se proceder a uma ampla revisão dos padrões de ensino e dos livros
didáticos utilizados nas diversas escolas e academias militares, sobretudo na
Escola Superior de Guerra e na Academia Militar das Agulhas Negras, ainda
reféns de uma visão apologética do golpe e da longa ditadura que a ele se
seguiu; d) ampliação, intensificação e continuidade das ações e dos esforços
necessários para que se proceda à localização dos restos mortais dos
desaparecidos políticos brasileiros. Terceiro – explicitar que os valores e
princípios insculpidos na Constituição Republicana de 1988 são incompatíveis
com a anistia a crimes de lesa-humanidade. O que fica claro diante do
reconhecimento formal do princípio da dignidade da pessoa humana como
fundamento do Estado Democrático de Direito brasileiro, da prevalência dos
direitos humanos nas relações internacionais, da condição de ser insuscetível
de graça ou anistia a prática da tortura, e, sobretudo, porque a Constituição
só trata de anistia com relação aos que foram perseguidos políticos pelo Estado
brasileiro, e não aos agentes públicos que os perseguiram. Está lá no art. 8º,
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Quarto – descrever de um
modo amplo e minucioso toda a complexa estrutura repressiva montada pela
ditadura, com ênfase especial à identificação das diversas instituições e
órgãos públicos envolvidos, bem como das cadeias de comando e das relações
horizontais estabelecidas em todos os níveis, especificando, do modo mais
completo possível, os nomes de todos os agentes públicos envolvidos. Quinto –
com base no diagnóstico do item anterior, recomendar a realização de expurgos
administrativos, procedendo à exoneração dos servidores públicos civis e
militares envolvidos e vedando a possibilidade de novos vínculos com o serviço
público em todos os seus níveis. Sexto – recomendar, igualmente, a partir do
diagnóstico construído a respeito da cadeia repressiva, a necessária reforma
das instituições públicas, com ênfase especial para o Poder Judiciário, as
Forças Armadas e as forças policiais brasileiras. Sétimo – recomendar a urgente
desmilitarização das polícias brasileiras e da implementação de um amplo e
reformulado programa de formação e orientação profissional de todos os
policiais brasileiros, estabelecendo com clareza inequívoca que a formação, o
treinamento e a lógica militar devem ficar restritos à dimensão dos conflitos
internacionais, jamais podendo ser estendidos para as ações de policiamento, de
combate à criminalidade e de garantia à segurança pública dos cidadãos da
sociedade brasileira. Oitavo – apoiar e endossar as ações e os esforços que o
Ministério Público Federal vem realizando no sentido da responsabilização penal
e civil dos agentes públicos que praticaram crimes de lesa-humanidade, da
investigação em torno do esclarecimento dos fatos que cercam as diversas violações de direitos
humanos e da responsabilidade civil do Estado brasileiro frente a essas
violações. Nono – recomendar a ampliação do apoio público e institucional, com
destinação de verbas e estruturas condizentes ao funcionamento e ao trabalho da
Comissão de Anistia e da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, tanto em suas atividades voltadas à
reparação econômica e material das vítimas da ditadura, como às ações de reparação
moral e simbólica e do resgate social, institucional e cultural da memória
política do País. Décimo – recomendar a intensificação e a ampliação dos
esforços e diligências para que se proceda à abertura de todos os arquivos
públicos relacionados ao período da ditadura civil militar brasileira, com
ênfase especial para os arquivos secretos constituídos pelas Forças Armadas;
descrever toda cadeia civil, empresarial e midiática de apoio à ditadura, bem
como as relações horizontais e verticais estabelecidas, identificando-se, da
maneira mais ampla possível, os nomes e as ações dos envolvidos; reforçar as
ações e diretrizes já previstas no III Plano Nacional de Direitos Humanos, no eixo orientador VI, especialmente o
financiamento para a construção de centros de memória e de monumentos e obras
que sinalizem para a não repetição de crimes de lesa-humanidade e para o
reconhecimento dos que foram praticados; intensificação e ampliação de
políticas e ações educacionais que garantam, nos padrões de ensino, em livros
didáticos voltados ao ensino em todos os níveis, o devido registro da história
de violações, abusos e arbitrariedades praticados pela ditadura, bem como das
ações e organizações de resistência a ela; produção de leis e normas que
proíbam a utilização de nomes de agentes da ditadura em logradouros, monumentos
e prédios públicos, bem como a alteração dos nomes já utilizados; recomendar
que o Congresso Nacional proceda a uma ampla revisão da legislação autoritária
constituída na ditadura, e que ainda continua em vigor, nos mais diferentes
setores, com ênfase especial a Lei de Segurança Nacional, que deve,
simplesmente, ser revogada, e a legislação que estrutura o funcionamento
interno das Forças Armadas, das Polícias e da própria Administração Pública; recomendar
ao Congresso Nacional que realize uma reforma política que diminua
substancialmente a possibilidade do financiamento privado de campanhas,
criando-se melhores condições para que as demandas e necessidades das classes
populares possam ser atendidas; afirmar que as ausências até hoje de sanções
penais efetivas contra os torturadores é fonte de renovação da violência
estatal atual; afirmar que a impunidade dos piores criminosos da nossa
História, tentativamente renovada por juízes e tribunais, é fonte permanente de
tensões e conflitos na sociedade brasileira; declarar inaceitável que centenas
de brasileiras e brasileiros tenham negado o seu direito de conhecer a verdade,
os fatos, os agentes, o destino e o luto de familiares seus, como resultado
planejado de ação, omissão e ocultação do Estado; e, por fim, dizer que o
conjunto dessas medidas é que poderá gerar a conscientização cidadã em prol do
nunca mais, no ambiente republicano, democrático e de soberania popular.
Desculpe se me estendi um pouco mais, Sr. Presidente. (Palmas.)
(Não revisado pelo orador.)
(O Ver. Mauro Pinheiro assume a presidência dos
trabalhos.)
O SR.
PRESIDENTE (Mauro Pinheiro): Só para lembrar, nós estamos, então, no período de
Comunicações, com o tema específico: Memória, Verdade e Justiça. Escutamos o
Sr. Juiz e Vice-Presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, Dr,
Roberto Caldas; o Sr. Procurador Federal, Dr. Ivan Cláudio Marx; e o Sr.
Conselheiro da Comissão Nacional de Anistia, o Professor José Carlos Moreira da
Silva Filho. Agora, abrimos as inscrições para os Vereadores que queiram se
pronunciar até o tempo de cinco minutos, com apartes.
O Ver. Clàudio Janta está com a palavra em
Comunicações.
O SR. CLÀUDIO
JANTA: Sr. Presidente, Ver. Mauro Pinheiro; membros desta Mesa, eu quero dizer
que, para os trabalhadores brasileiros, nós estranhamos quando algumas pessoas
tentam dizer que não vivemos um outro momento no País, tentam esconder este
momento. Muitas vezes, na minha adolescência, quando militei num partido de esquerda
– aliás, nem existia partido naquela época, fui militante ativo do Movimento
Revolucionário 8 de Outubro, depois virei dirigente dessa agremiação –,
tínhamos que esconder onde morávamos, tínhamos que esconder onde trabalhávamos
e tínhamos dificuldade até de convidar alguém para uma assembleia, para uma
reunião de movimento sindical, de pauta de reivindicações. Todas as nossas
entidades sindicais sofreram intervenção. Quando um dirigente sindical exercia
um papel um pouquinho mais diferenciado, e não precisava nem ser muito ativo,
era automaticamente afastada toda a Diretoria e vinham os interventores.
Realmente, nós vivemos anos de chumbo. Eu me lembro muito bem da dificuldade
que tínhamos de entregar o jornal Hora do Povo, que era o material que nós usávamos
para enfrentar a ditadura, lembro da ameaça que havia de as bancas receberem
bombas, de os donos de bancas que botavam esses jornais serem presos, o que nos
levava para a Rua da Praia, hoje Esquina Democrática da nossa Cidade, a vender
esse jornal e muitas vezes saindo dali com a certeza de que para as nossas
casas nós não voltaríamos e muitas vezes temendo até que não pudéssemos voltar
para aquela esquina e que muitas pessoas nós não pudéssemos ver.
Acho que essa memória ativa tem que ficar junto no
Brasil, nós não podemos jamais voltar a esses tempos, não podemos jamais voltar
a esses momentos. E o exemplo claro é o que, hoje em dia, a gente tem na
democracia, e esta Casa é um exemplo disto, quando, nesta tribuna, sobem
representantes dos trabalhadores, representantes dos empresários,
representantes do funcionalismo público, representantes de todas as classes.
Nós somos 36 Vereadores aqui dentro, cada um com a sua representação, cada um
mantendo um respeito mútuo, sem, em nenhum momento, ameaçar o bem maior que as
pessoas têm, que é a vida. Esses momentos que nós vivemos neste País foram
momentos negros, momentos de chumbo, e eu acho que realmente não dizem que foi
ditadura – há pessoas que relutam em dizer que era uma ditadura – porque não
esperaram 20 anos para poder falar o que pensam, não esperaram 20 anos para
poder reivindicar, não esperaram vinte anos para poder parar uma empresa; não
esperaram vinte anos para poder assinar um acordo de PLE; não esperaram vinte
anos para ter delegados sindicais; e não esperaram vinte anos para assumir o
seu próprio nome. Vários companheiros usavam pseudônimos, várias pessoas,
quando descobrimos o nome, estanhavam: o teu nome é esse? Então, eu acredito
que esses momentos jamais poderão voltar ao nosso País. Acho que todos nós
temos o papel importantíssimo de lutar pelo que temos hoje em dia: a
democracia, o direito de falar, o direito de eleger, o direito de dizer e o
direito de reivindicar. Isso, em hipótese nenhuma, nós podemos perder. E quando
um grupo assume um poder, tendo somente 20% de um apoio que não existia, isso é
uma ditadura; isso é uma ditadura mesmo. Se fosse uma revolução, o povo tinha
ido para a rua. Se fosse uma revolução, o povo tinha pegado em armas. Revolução
é quando o povo pega em armas; quando o exército que pega em armas é uma
ditadura, é uma imposição, porque muitas vezes nós estamos com o bodoque,
muitas vezes nós estamos com pedra e pedaço de pau, enquanto as armas, os
armamentos estão lá. E o exemplo disso é o Vietnã, agora mesmo, por que os
Estados Unidos não brigam com a Rússia? É de igual para igual, não tem a
discrepância que existe em outros países que eles invadiram. Então, quando a
gente está em desigualdade, realmente um ser superior, um ser em condições
maiores, estaria lutando contra a gente.
Realmente, eu acho que ditadura, nunca mais.
Ditadura, neste País, não tem mais espaço. Este País é uma democracia, e nós
vamos lutar e dar a nossa vida por essa democracia. Muito obrigado.
(Não revisado pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (Mauro Pinheiro): A Ver.ª Sofia Cavedon está com a palavra em
Comunicações.
A SRA. SOFIA
CAVEDON: Sr. Presidente Ver. Mauro Pinheiro, quero iniciar cumprimentando o
nosso colega de Bancada, Alberto Kopittke, dizendo que ele nos representou
muito bem nessa organização, a Bancada do PT, nesses dois momentos
emblemáticos. O primeiro, no reconhecimento político e na continuidade da
manutenção da memória e da presença viva dos heróis, dos lutadores desta
Cidade, daquele período. E agora, neste momento, de uma Mesa com uma densidade
e uma coragem, uma juventude surpreendente, que honra aquela geração. Quero
fazer este primeiro registro, ao cumprimentar o Dr. Roberto Caldas, o Dr. Ivan Cláudio Marx e
o Professor José Carlos Moreira da Silva Filho.
Surpreendi-me – comentava com o Kopittke – com a juventude, em especial o Dr.
Ivan Cláudio, que já é Procurador e já com tantas ações importantes, porque há
uma grande parte da nossa geração alienada pela grande mídia em especial, que
desconhece, não sabe, não tem noção de quanto custou conseguirmos viver nos
tempos de democracia. Às vezes, alguns repetem ingenuamente que no tempo da
ditadura era melhor, porque tinha segurança. Quando a gente vê uma geração de
professores, de representantes políticos, essa influência na Corte
Interamericana, que honra o nosso Brasil, Dr. Roberto, a gente sabe que este
País não voltará atrás. Quero dizer que essa Mesa testemunha isso, apenas com
um pequeno reparo, Ver. Alberto Kopittke, de que nós precisávamos ter mulheres
nessa Mesa também. Quero aqui, nesse sentido, cumprimentar a Chris Rondon, uma
jovem advogada que, logo, de certo, estará no lugar de vocês, com vocês, pelo
seu brilhantismo, pela sua militância. A Chris, que coordena, junto ao Raul
Ellwanger, o Comitê da Verdade de Porto Alegre. Eles militam e aqui
coordenaram, obviamente, com muitos companheiros e companheiras, ações
emblemáticas de desvelamento da ditadura nesta Cidade. Foram emblemáticas,
belíssimas, quero aqui fazer de público o reconhecimento, porque a nossa Cidade
muy leal e valerosa que foi,
infelizmente, precisa, sim, reconhecer os seus espaços, os seus atores, quanto
tem de dívida, com quem lutou, com quem resistiu e que está aí conosco, na
nossa história.
O segundo
ponto que quero tratar, acho que é muito importante. Um de vocês dizia: imagina
que Brasil seria este, se tivesse feito as reformas do João Goulart. Não é só a
penalização pessoal, a violência contra pessoas, contra famílias, contra uma
geração, contra a liberdade de voz, da arte, mas um destino que se colocou no
País, uma interdição que se colocou no País, que hoje nos permite, nos obriga a
dizer que nós não conseguimos instalar a República neste País. Nós, na semana
passada, tivemos, nesta Capital e neste Estado, quatro páginas do principal
jornal formador de opinião deste País, dedicadas, consagradas, entregues a um
torturador, o Ustra, e as manchetes e frases em evidência desse jornal quase
liberavam, quase inocentavam o torturador Ustra. Então esse exemplo nos diz que
as reformas de João Goulart teriam atingido a mídia. Nós temos ainda a
apropriação pelas grandes famílias que sustentaram a ditadura militar da
formação da opinião pública neste País. E isso é gravíssimo, um dos elementos
que caracterizou o crime de Estado é que o Estado segue, lamentavelmente ainda,
via nossa estrutura político-democrática liberal resultante da ditadura, da
apropriação privada deste Estado, usurpando o poder do cidadão neste País! Nós
temos minorias transformadoras – Ver. Mauro, para encerrar –, temos grandes
maiorias, como diz Marcio Pochmann. Os nossos parlamentos são potencialmente
golpistas no Brasil, são resultado ainda do poder econômico, do controle dos
meios de comunicação, da concentração de terra, de renda e poder,
lamentavelmente, para falar de uma reforma que teria transformado
maravilhosamente nosso Brasil há 50 anos. Então, é imensa a dívida que tem
conosco, com o povo brasileiro, os que praticaram os crimes da ditadura.
Parabéns pela militância de vocês, que a democracia impere e se aprofunde.
Violência e ditadura de Estado, nunca mais. (Palmas.)
(Não revisado pela oradora.)
O SR.
PRESIDENTE (Mauro Pinheiro): Obrigado, Ver.ª Sofia Cavedon. A Ver.ª Jussara Cony
está com a palavra em Comunicações.
A SRA. JUSSARA
CONY: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e Sras. Vereadoras, que ainda permanecem
aqui, permitam-me iniciar complementando, até antes dessa Mesa, a presença do
Raul Ellwanger e da Chris Rondon, que representam aqui o Comitê Carlos de Ré,
da Verdade, Memória e Justiça, lembrando, na figura do Carlos de Ré, tantos e
tantos militantes na luta contra a ditadura militar e pela redemocratização do
nosso País. Quero dizer que são novos tempos que nós vivemos, e eu digo isso
como uma militante diligente do Partido Comunista do Brasil, filha e neta de
comunistas e que não vivi nenhum momento da minha vida a não ser junto ao meu
Partido e por ele dirigida em clandestinidade, em redemocratização e neste
momento atual em que vive o nosso País. E é exatamente dizendo isso que eu
quero cumprimentá-los. Eu acho que nós vivemos novos tempos, e hoje, nesta
Casa, nós vivemos um dia de emoção, de reparação, de reflexão, quando
devolvemos os mandatos cassados pela ditadura e quando temos agora esta Mesa
aqui. Aqui nesta tribuna nos trouxeram – para todos os democratas e para nós,
do PCdoB – um momento de grande emoção também, que foi o Dr. Roberto Caldas, o Dr. Ivan
Cláudio Marx – a gente já se conhece bem das lutas aqui – e o Professor José
Carlos Moreira da Silva Filho. Quando nós temos oportunidade, nesta Casa, de
dizer, através dos senhores, que é uma força-tarefa para descobrir,
investigando os crimes cometidos no Araguaia, são novos tempos que vivenciamos.
Durante muito tempo nós fomos considerados os lutadores, os revolucionários,
todos aqueles que querem as liberdades democráticas e que não se dobraram a um
regime de exceção, a uma ditadura militar. Quando nós ouvimos que os crimes
cometidos contra esses lutadores estão sendo investigados, isso é fruto da luta
do povo e é fruto dessa concepção e desse momento que as nossas instituições
democráticas se voltam para as reparações necessárias a serem feitas, para que
nunca mais aconteçam. Eu acho que o Sereno, hoje, disse, num momento importante
aqui: “Nós temos que relembrar a história para que nunca mais aconteça”. Mas,
mais do que relembrá-la, Ver. Kopittke, nós temos que dizer que temos orgulho
dessa história! Temos orgulho de participar! Temos orgulho do povo brasileiro
pelas lições de humanidade, pelas lições de companheirismo, de solidariedade
que hoje até não vemos muito, mas que tivemos uns com os outros nesse processo!
Eu cheguei a esta Casa, senhores, há 31 anos, como membro do Partido Comunista
do Brasil, na clandestinidade, pela sigla que a todos acolheu – MDB e, depois,
PMDB – e tive a oportunidade, quando exerci esse mandato, há 31 anos, em 1986,
na luta, nas ruas com o povo brasileiro, porque nós não ganhamos o aval da
nossa anistia, nós conquistamos, o PCdoB, a nossa
legalidade nas ruas, na luta, no processo de enfrentamento da ditadura militar.
Em 1986, eu
tive a oportunidade belíssima de construir a primeira Bancada do Partido
Comunista do Brasil aqui nesta Casa. Era só eu, naquele momento, de Vereadora
neste Estado. E foi um momento de muita grandeza, porque nós buscamos, o
Partido e eu, aqui, reverenciar a figura de Julieta Battistioli, a primeira
mulher Vereadora, e Elói Martins, o primeiro operário que entrou nesta Casa,
que não puderam entrar em nome do seu Partido, o Partido Comunista do Brasil,
tiveram que entrar por outras siglas por um processo histórico da maior parte
do nosso Partido, que estava na clandestinidade. O nosso Partido, aliás, fez 92
anos anteontem. Estamos comemorando 92 anos de história.
Então, este é um
momento, digo aos senhores, de muita emoção, porque fomos condutores políticos
da Guerrilha do Araguaia, e nunca negamos isso. Fomos para o enfrentamento com
a ditadura e, também, para o enfrentamento da luta de ideias para dizer por que
a Guerrilha do Araguaia naquele momento. E os senhores estão reparando esta
história, na medida em que o Brasil se abre para mais e mais democracia – e
todos nós queremos mais.
Nesta Casa, eu
presido a Frente Parlamentar pela reforma política, conduzida pela OAB, da qual
estamos todos participando, pelas liberdades democráticas, por uma reforma
política que, efetivamente, enfrente as questões de fundo, como o financiamento
público de campanha, como as listas, onde nós mulheres não queremos mais ficar
para cumprir cotas, mas queremos uma mulher e um homem, uma mulher e um homem,
até começando pelas mulheres, porque somos maioria e temos um papel decisivo na
luta emancipatória, pois, quando lutamos por nossa emancipação, nós lutamos
pela emancipação do povo como um todo.
O Janta disse muito
bem aqui: não venham para cima de nós com esta de que foi uma revolução.
Revolução é quando o povo vai fazer a revolução e, se preciso, pegar em armas
para fazê-la. Nunca negamos isso.
Eu fui eleita para
esta Casa há 31 anos. As ruas de Porto Alegre ainda guardam alguns resquícios
disso: “Jussara Cony, Vereadora, abaixo a ditadura!”. Obrigada por este momento
que vocês dão de emoção a uma eterna líder. (Palmas.)
(Não revisado pela
oradora.)
O SR. PRESIDENTE (Mauro Pinheiro): Obrigada,
Ver.ª Jussara Cony, com certeza, não estou há muito tempo na Casa, já no meu
segundo mandato, e acho que hoje, de muitas sessões importantes de que participei aqui,
talvez tenha sido como um símbolo, uma das mais importantes de que participei
neste Parlamento.
O Ver. Alberto Kopittke está com a palavra em
Comunicações.
O SR. ALBERTO
KOPITTKE: Ver. Mauro Pinheiro, presidindo a nossa Sessão; retorno à tribuna, já
neste segundo espaço, antes de mais nada, para fazer alguns pedidos de
desculpa. Na primeira fala, em razão do simbolismo e da força do momento,
obviamente a minha juventude também fez com que eu acabasse cometendo um
conjunto de equívocos em não citar pessoas, instituições, entidades. Eu quero,
aqui, também deixar, antes de mais nada, o meu abraço à Ver.ª Jussara Cony. É
irreparável esse erro que eu cometi, mas, de qualquer forma, foi fundamental
toda a luta da Ver.ª Jussara e de outros companheiros também do PCB, do PCdoB.
Quero citar também o Raul Ellwanger, que é um símbolo da nossa história. Também
cito o Dirceu Messias, que é um amigo, lutador. O Messias tem uma história:
ele, depois, foi preso no Chile, foi para o Estádio Nacional do Chile.
Recentemente, ele voltou ao Chile, na descomemoração do golpe de lá, dos 40
anos; e não pode entrar no Chile novamente. Ele será recebido pela Presidente
Bachelet, que, em nome do Estado chileno vai se desculpar com o Messias, um
grande lutador do nosso País na luta pela liberdade. Saúdo também a Chris
Rondon, e, em seu nome, todos os amigos do Fórum da Democracia, que reúne um
conjunto de entidades. Há algumas pessoas aqui presentes com as quais fizemos
várias reuniões, Ver. Márcio Bins Ely – que chega agora –, que antecederam este
momento, que eu acabei também não citando devido ao nervosismo e à emoção do
momento anterior. Agradeço também ao Ver. Mauro Pinheiro, que é nosso 1º
Vice-Presidente, que foi peça fundamental na Mesa Diretora para que pudéssemos
realizar os dois eventos de hoje, além da minha Bancada – Ver.ª Sofia Cavedon,
Ver. Marcelo Sgarbossa e Ver. Engº Comassetto. Quero deixar um agradecimento
também ao Ver. Clàudio Janta, ao Ver. Delegado Cleiton, que estão presentes até
agora. Quero agradecer, de uma forma muito especial, a essas três pessoas que
são referência, hoje, no Brasil e internacionalmente, na luta pela democracia.
Algumas pessoas, Dr. Roberto Caldas – que veio de Brasília especialmente para
nossa atividade – não têm a dimensão do que é a Corte Interamericana, do que é
o Sistema Internacional de Justiça, por desconhecimento, por enquanto, dessa
nova dimensão de luta pela justiça e pelas democracias no mundo, mas sua
presença honra a nossa Casa. A sua trajetória como advogado militante nas casas
de Brasília, nas supremas cortes brasileiras de justiça, o senhor que sempre
esteve na defesa dos trabalhadores brasileiros, e com quem eu muito aprendi
sobre advocacia e sobre luta pelos direitos humanos. Dr. Ivan Marx, um jovem
brilhante que até me estimula a pensar na carreira do Ministério Público por
mostrar como podem ser ferramentas de luta as nossas instituições públicas – o
Ministério Público, o Judiciário também –, e além da advocacia, o seu trabalho
é inspirador para vários e vários jovens estudantes de Direito, aqui no Estado
e em todo o Brasil, pela coragem por ter sido uma das primeiras vozes no Brasil
a se levantar na luta pela justiça e pela punição dos torturadores do nosso
País. Professor José Carlos, sou suspeito pela amizade, mas que junto com toda
a equipe da Comissão da Anistia, de jovens professores que saíram do Rio Grande
do Sul, está fazendo uma revolução democrática neste País. São mais de 50
caravanas da anistia reabrindo nas universidades brasileiras este debate,
resgatando a memória e os direitos de centenas, de milhares de pessoas que a
ditadura massacrou. A ditadura não massacrou só o físico, ela massacrou o
psicológico, ela massacrou a imagem das pessoas para os seus filhos, os seus
netos. A ditadura contou histórias mentirosas e é fundamental esse resgate da
luta pela verdade porque, sim, existe ainda no imaginário brasileiro uma
afeição ao regime autoritário. Isso nós temos que encarar. Não são poucas as pessoas,
como não foram poucas as pessoas que apoiaram o golpe. Isso não tornou o golpe
mais legítimo, mas nós precisamos enfrentar essa tendência ao autoritarismo que
existe na sociedade brasileira, de pessoas que talvez enganadas, talvez não,
repitam que o Brasil era melhor naqueles tempos. Nós precisamos lembrar, só
para resumir aqui, as três grandes heranças da ditadura: a hiperinflação em que
deixaram o Brasil; o maior regime desigual, a maior economia do mundo, a maior
desigualdade de todo o mundo, Ver. Mauro, era a brasileira ao final da
ditadura, de um regime sem povo, de um regime que só criou privilégios. Hoje é
importante dizer que os direitos que constituíram para aquelas pessoas que
estavam no regime – a colega Tamires me trouxe esse dado e fiquei estupefato,
Dr. Ivan Marx –, os direitos previdenciários dos herdeiros das pessoas que
governaram o Brasil durante a ditadura, o custo anual que o Brasil tem de
previdência com essas segundas, terceiras gerações, é de R$ 24 bilhões por ano,
o mesmo valor que o Bolsa Família emprega para 40 milhões de pessoas. Essa
sociedade dos privilégios que ainda temos que questionar. Nós só vamos vencer a
violência no tema da segurança pública se enfrentarmos esse passado em que o
Estado brasileiro foi usado, manipulado, contra o próprio povo. Muito obrigado
por esta oportunidade, e que tenha sido apenas um momento de uma luta muito
longa e eterna pela democracia e pela liberdade.
(Não revisado pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (Mauro Pinheiro): Muito obrigado, Ver. Alberto Kopittke. Em meu nome,
em nome da Câmara de Vereadores, em nome da cidade de Porto Alegre, agradecemos
ao Dr. Roberto Caldas, Juiz Vice-Presidente da Corte Interamericana de
Direitos; ao Dr. Ivan Cláudio Marx, Procurador Federal; e ao Sr. José Carlos Moreira
da Silva Filho, Conselheiro da Comissão Nacional de Anistia, por todas as
informações, por todas as contribuições que nos deram na tarde de hoje, e pela
luta, pela memória, verdade, justiça e democracia do nosso País. Contem com
esta Câmara de Vereadores, contem com esses Vereadores para que nunca mais
tenhamos momentos como os da ditadura, e que a democracia reine em nosso País
para sempre. Muito obrigado. (Palmas.)
Visivelmente não há quórum. Estão encerrados os
trabalhos da presente Sessão.
(Encerra-se a Sessão às 17h12min.)
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